segunda-feira, 20 de agosto de 2012

O metabolismo social do desenvolvimento sustentável


20/08/2012 18:20:16

O metabolismo social do desenvolvimento sustentável

Ricardo Abramovay*
Metade da população mundial encontra-se hoje em 19 países asiáticos, cujas economias foram estudadas pelo Sustainable Europe Research Institute (Seri) de Viena com base numa pergunta decisiva para o desenvolvimento sustentável: em que consiste o metabolismo que estas sociedades estabelecem com a natureza?
Trata-se de saber como são usadas as bases materiais em que se apoia a oferta de bens e serviços que compõem a riqueza de diferentes países. Para isso, são estudados quatro tipos de materiais absolutamente indispensáveis para a vida moderna: biomassa, energias fósseis, minerais e produtos metálicos. São produtos cuja oferta não é infinita e cuja utilização aumenta com a população e a riqueza.
O caráter limitado de sua oferta exige que se coloquem duas questões fundamentais quanto ao seu uso: a primeira refere-se à eficiência com que são extraídos da superfície terrestre, transformados, utilizados e, quando for o caso, reutilizados ou reciclados. Nas sociedades contemporâneas, parte cada vez mais significativa das inovações tecnológicas volta-se para a redução da energia empregada na obtenção destes materiais, a diminuição de sua presença nos diferentes produtos e a ampliação das chances de sua reutilização. Este é o objetivo fundamental dos sistemas de inovação focados na sustentabilidade.
Mas há uma segunda questão central que não pode ser evitada diante da escassez relativa dos materiais de que depende a vida social: a que finalidade sua utilização se destina? Que grupos sociais são principalmente beneficiados com seu uso? Quais seus efeitos globais sobre o bem-estar da espécie humana?
Os 19 países asiáticos estudados pelo Seri compreendem 90% da população asiática (sem contar a Rússia e os antigos componentes da União Soviética) e 20% do PIB mundial. São imensas as desigualdades entre eles, já que na lista estão Japão, Coreia, Israel, Cingapura, mas também China, Índia, Indonésia, Bangladesh, Tailândia e Paquistão. Como é a região de maior crescimento econômico do mundo, seu metabolismo social é uma das mais importantes questões globais da atualidade.
Em 2005, o consumo dessa metade da população mundial exigia que se retirassem da superfície terrestre, anualmente, 18 bilhões de toneladas destes quatro tipos de materiais (biomassa, minérios, metais e combustíveis fósseis). Este total era de nove bilhões de toneladas em 1985. Na época, esses países consumiam 22% dos recursos mundiais, proporção que passa para 31% em 2005. A Ásia é hoje o centro da economia mundial, não só em termos de crescimento econômico e consumo, mas também é a região em que mais se eleva o ritmo de utilização de materiais e energia. E essa utilização é marcada por uma dupla desigualdade, sem cujo enfrentamento é impossível sequer conceber a ideia de desenvolvimento sustentável.
A primeira refere-se à quantidade de materiais utilizada pelos indivíduos e pelas diferentes economias. Enquanto Japão, Cingapura, Israel e Coreia têm média de 11 a 15 toneladas per capita de extração de materiais, Bangladesh não vai além de 1,1, a Índia fica em torno de 2,8, e a China atinge 6,2 toneladas per capita. A média europeia é próxima à dos mais desenvolvidos países asiáticos, e a do Canadá e dos Estados Unidos chega a 25 toneladas per capita. Não há como ampliar a infraestrutura desses últimos países sem que aumentem os materiais de que depende a construção de novas estradas, fábricas, hospitais, bibliotecas, enfim, das condições indispensáveis para o próprio desenvolvimento. Ao mesmo tempo, como imaginar que este uso chegue ao nível dos países desenvolvidos sem exaustão destes recursos?
Daí a importância de uma segunda desigualdade, cujas bases são as diferenças de avanço científico e tecnológico entre os países: a mesma quantidade de materiais pode resultar em utilidades muito maiores a depender da maneira e das finalidades com que são empregados. Em outras palavras, a produtividade material das economias é muito variada. No Japão, cada tonelada de material consumida resulta na produção de quase US$ 2,5 mil. Na média asiática, este valor vai pouco além de US$ 500 e na média mundial fica aquém de US$ 650. Sistemas de inovação voltados para a sustentabilidade têm justamente a função de permitir que a mesma unidade de materiais se exprima em quantidade cada vez maior de riqueza. Isto se obtém pela ampliação na própria eficiência com que os materiais são empregados. Aumentar a produtividade dos recursos é, certamente, uma das bases do desenvolvimento sustentável.
E neste particular, o trabalho do Seri apresenta duas conclusões preocupantes. Em primeiro lugar, nos países que mais crescem neste conjunto asiático, o uso de recursos acompanha pari passu a própria ampliação na oferta de bens e serviços: o crescimento não se emancipa, não se descola de sua dependência com relação aos bens materiais finitos dos quais ele depende. E a segunda conclusão é que parte da capacidade, que tiveram os países mais ricos de descasar relativamente seu crescimento dessas bases materiais, deriva de avanço científico e tecnológico, mas também do fato de que suas indústrias mais sujas e pesadas foram transferidas para nações mais pobres.
O resultado é que, por mais importante que sejam as inovações tecnológicas na emergência do desenvolvimento sustentável, será necessário igualmente discutir a que finalidades e com que benefícios sociais são usados os recursos ecossistêmicos em que o crescimento econômico se apoia. Utilizar ferro, plástico, borracha e vidro para produzir automóveis que congestionam as regiões metropolitanas, e usar terra, adubos e agrotóxicos para oferecer alimentos que resultam em crescente obesidade são formas cada vez menos admissíveis de estimular as atividades capazes de garantir sucesso na luta contra a pobreza. Na raiz das doenças metabólicas das sociedades contemporâneas, está o próprio sentido de suas atividades econômicas.
Esses temas serão discutidos por Eduardo Giannetti da Fonseca, Ladislau Dowbor e Matthew Shirts, por ocasião do lançamento de Muito Além da Economia Verde, no dia 20 de agosto, às 19 horas, no Teatro Eva Herz, no Conjunto Nacional, em São Paulo.
* Ricardo Abramovay é professor titular da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade (FEA) e do Instituto de Relações Internacionais (IRI), ambos da Universidade de São Paulo (USP), pesquisador do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e da Fapesp, e autor de Muito Além da Economia Verde, lançado na Rio+20 pela Editora Planeta Sustentável.
** Publicado originalmente no site Ricardo Abramovay.
(Ricardo Abramovay)


Fonte: http://mercadoetico.terra.com.br/arquivo/o-metabolismo-social-do-desenvolvimento-sustentavel/

domingo, 19 de agosto de 2012

Capital recebe 1º Fórum Internacional de Mudanças Climáticas das Cidades de Baixo Carbono

 • Notícias

Será realizado no próximo dia 27 de agosto, em Porto Alegre, o 1º Fórum Internacional de Mudanças Climáticas das Cidades de Baixo Carbono, numa promoção do Instituto Latino Americano de Desenvolvimento Econômico Sustentável – ILADES – e Secretaria Municipal do Meio Ambiente – SMAM. O evento ocorrerá no auditório do Ministério Público Estadual- Torres Gêmeas Av. Aureliano de Figueiredo Pinto, 80 com o objetivo de debater a qualidade de vida das cidades e os mecanismos econômicos para viabilizar este mercado.
Entre os temas em debate, inclui-se a proposta de criação da primeira Bolsa de Carbono local, inspirada no modelo da Santiago Climate Exchange, já implantada em Santiago do Chile, cuja concepção será apresentada pelo seu presidente, Carlos Berner.
O presidente do ILADES, o advogado gaúcho Marcino Fernandes Rodrigues, observa que, a exemplo de sua congênere chilena, a Bolsa de Porto Alegre terá, entre suas atribuições, buscar identificar riscos e oportunidades em atividades produtivas, mobilidade urbana, resíduos orgânicos, geração de energias renováveis e planejar a redução de emissões atmosféricas de setores poluentes, certificando e negociando créditos de carbono junto a empresas e outras organizações do país e do exterior com passivos ambientais.
Entre os palestrantes de destaque, também já confirmados, incluem-se o secretário de Mudanças Climáticas e Qualidade Ambiental do Ministério do Meio Ambiente, Carlos Klink, que mostrará como acessar os recursos do Fundo Nacional de Mudanças Climáticas (Fundo Clima) e o coordenador geral do Meio Ambiente e Mudanças Climáticas do Ministério da Fazenda, Aloisio Melo, que abordará as perspectivas da criação do Mercado de Carbono do Brasil e suas repercussões econômicas.
Fonte: ILADES
Enfato Comunicação Empresarial
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* O conteúdo deste texto é de inteira responsabilidade da fonte citada, a quem corresponde a origem das informações nesta matéria.

quarta-feira, 18 de julho de 2012

Pensando Sustentabilidade: Teoria do Desenvolvimento Construtivo

Compartilhando texto de Ana Marques:


Olá! Hoje veremos uma teoria muito interessante sobre o desenvolvimento da consciência. Esta é uma das teorias que vou usar na minha pesquisa de doutorado para desenvolvimento de lideranças conscientes para a sustentabilidade. 

Pesquisadores no passado pensavam que só as crianças poderiam desenvolver a mente, então Robert Kegan (cientista da Universidade de Harvard) desenvolveu uma teoria para o desenvolvimento adulto que define cinco estágios de complexidade mental ou "ordens de consciência".
Para entender melhor essa teoria, primeiro vamos ver o conceito de relação sujeito-objeto. Nas palavras de Kegan:
A relação sujeito-objeto é uma distinção fundamental na maneira que nós fazemos sentido de nossa experiência - uma distinção que molda o nosso pensamento, nosso sentimento, nosso relacionamento social, e os nossos modos de se relacionar com aspectos internos de nós mesmos. A relação sujeito-objeto não é apenas uma abstração, mas algo vivo. O que quero dizer como "objeto" são os aspectos da nossa experiência, que são aparentes para nós e que podem ser olhado para, relacionado com, refletido sobre, engajado, controlado, e ligado a outra coisa. Podemos ser objetivo sobre essas coisas, no que não vê-las como "eu". Mas com outros aspectos da nossa experiência, estamos tão identificados com, incorporados em, fundidos com, que acabamos por experimentá-los como sendo a nós mesmos. Isto é o que nós experimentamos subjetivamente- o "sujeito", metade da relação sujeito-objeto.
Em resumo, sujeito é o "eu" e objeto é o "não eu". Por exemplo, em um bebê não existe uma distinção sujeito-objeto, assim não há uma distinção entre a fonte do desconforto causado pela luz brilhante ou pela fome na barriga. Não há distinção entre o “eu” e o “não eu”.
A teoria de Kegan descreve cinco estágios de desenvolvimento ou ordens de consciência:
A Mente Impulsiva (1 ª ordem de consciência): o primeiro estágio é o que caracteriza principalmente o comportamento das crianças, que são incapazes de distinguir os objetos das pessoas presentes no ambiente. Este é o nível básico de desenvolvimento. A pessoa e o ambiente estão unidos.
A Mente Instrumental (2 ª ordem de consciência): Os indivíduos nesta fase (geralmente até a adolescência) são auto-centrados e veem os outros como facilitadores ou obstáculos para a realização de seus próprios desejos. Nesta fase, a pessoa tem apenas uma perspectiva, a sua própria.
A Mente socializada (3 ª ordem de consciência): a este nível de consciência, a identidade da pessoa é vinculada a viver em relação com os outros, em papéis determinados por sua cultura local. Tal pessoa está sujeita às opiniões dos outros e é, portanto, fortemente influenciada pelo que acredita que os outros querem ouvir. Tal postura tende a ser dependente da autoridade para o direcionamento e menos propensa a questionamentos, sendo um seguidor leal. Cerca de 58% da população adulta está até esse nível de consciência.
A Mente de Autoria Própria (4 ª ordem de consciência): é capaz de dar um passo atrás de seu ambiente e mantê-lo como objeto, olhando a sua cultura de forma crítica. A mente de autoria própria é capaz de distinguir as opiniões dos outros de suas próprias opiniões para formular sua própria base de julgamento. O resultado é uma "autoria própria" de sua identidade, que é independente do seu ambiente. Guiado por sua própria bússola interna, essa pessoa torna-se então sujeito à sua própria ideologia. Esses indivíduos tendem a ser auto dirigidos, pensadores independentes.
A Mente Auto-Transformadora (5 ª ordem de consciência): é o maior nível de consciência no modelo de Kegan. Deste ponto de vista, a pessoa é capaz de considerar as múltiplas ideologias simultaneamente e compará-las, sendo cauteloso com qualquer uma. Esta perspectiva múltipla é capaz de suportar as contradições entre os sistemas de crenças concorrentes e, portanto, sujeita à dialética entre sistemas de pensamento. Menos de 1% da população adulta se encontra neste nível de desenvolvimento.
De acordo com Kegan, o estado final desta história - deste processo de mudança gradual, mas qualitativamente mudando mais e mais o que era sujeito para objeto - seria um estado em que a distinção sujeito-objeto chega ao fim mais uma vez, na direção oposta do que nos primeiros minutos de vida. Há duas maneiras diferentes que você pode sair da divisão sujeito-objeto. Uma forma é ser inteiramente sujeito sem nenhum objeto, que é um bebê. E a outra maneira é através do esvaziamento completo do sujeito para o objeto, de modo que não é, em certo sentido, nenhum sujeito, isto é, você não está olhando para fora no mundo a partir de qualquer ponto de vista que é separado dele. Você está em seguida, tomando a perspectiva do mundo todo.

De forma poética:
“A única real viagem da descoberta consiste não em ver novas paisagens, mas em ter novos olhos, de ver o universo com os olhos do outro, de centenas de outros, em ver as centenas de universos que cada um deles vê” - Marcel Proust.


Para mais sobre o trabalho de Robert Kegan:

segunda-feira, 16 de julho de 2012

GlobalGiving lança desafio aberto para ONGs interessadas em captar globalmente

A organização não-governamental americana GlobalGiving , constituída com uma plataforma online de de captação de recursos, lançou um desafio aberto para cadastrar novas organizações que queiram disponibilizar seus projetos para captação. Desde 2002, a GlobalGiving captou quase 70 milhões de dólares (140 milhões de reais), de pelo menos 270 mil doadores e para 5.834 projetos distintos em todo o mundo.
O desafio consiste em cadastrar no site novas organizações que queiram divulgar mundialmente seus projetos, para obter financiamento a elas. As entidades que forem considerada aptas no cadastramento terão um desafio de captar 4 mil dólares (8 mil reais), de pelo menos 50 doadores distintos, utilizando a plataforma do site. A duração do desafio é de cerca de 4 semanas e o seu objetivo é justamente familiarizar as organizações com a estrutura da GlobalGiving e agregar aos sites aquelas que se mostrarem aptas a utilizá-lo para incrementar sua captação de recursos.

sexta-feira, 13 de julho de 2012

ONG Parceiros Voluntários lança livro com metodologias para o 3º setor


Uma metodologia para ajudar as organizações do Terceiro Setor a melhor planejarem as suas ações de forma sustentável.
Assim pode ser definido o projeto Desenvolvimento de Princípios de Transparência e Prestação de Contas em Organizações da Sociedade Civil, desenvolvido pela ONG Parceiros Voluntários a convite do  Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), que teve o copatrocínio da Petrobras.
Os resultados desse esforço conjunto de mais de três anos estão agora compilados no livroONG – Transparência Como Fator Crítico de Sucesso (Editora Unisinos, 291 páginas), de autoria da presidente (Voluntária) da ONG Parceiros Voluntários, Maria Elena Pereira Johannpeter, e da historiadora Naida Menezes. Além da distribuição gratuita de mil exemplares às fundações, organizações sociais, governos, empresas e universidades, em Porto Alegre, o livro também pode ser encontrado na Livraria Humanas pelo valor de R$ 37,00.
A meta é difundir as metodologias para ampliar o nível de profissionalização do segmento. A experiência do projeto, documentada detalhadamente no livro, iniciou em 2008 e recebeu aportes do BID e da Petrobras no total de US$ 800 mil. Ao final de 36 meses, 76 organizações sociais de 21 municípios do Rio Grande do Sul mudaram o seu patamar de gestão. O mapeamento de resultados apontou que após a capacitação realizada em quatro módulos de 80 horas presenciais, 20 horas semipresenciais e dez meses de acompanhamento por especialistas, essas organizações começaram a utilizar ferramentas de gestão e apresentaram resultados imediatos.
Do total, 95% das ONGs estão disponibilizando a prestação de contas para seus stakeholders – partes interessadas que envolvem empresas investidoras e comunidades beneficiadas – ampliaram sua comunicação com seus públicos, aumentaram a capacidade de captar novos parceiros e aprenderam a cuidar melhor da sua área contábil e financeira. “As empresas querem saber para onde vai o dinheiro investido no Terceiro Setor e se a comunidade beneficiada evoluiu, se foi mais bem atendida e se houve transformações”, afirma Maria Elena. “As organizações sociais precisam ostentar credibilidade para que, em caso de alguma recessão nas empresas, o primeiro corte não seja necessariamente nos projetos sociais”, complementa.
Entre as ferramentas utilizadas e descritas no livro estão a PDCA, que busca agir de forma corretiva, a FOFA (Forças, Oportunidades, Fraquezas e Ameaças) e a 5W2H (Plano de Ação). Uma das ONGs que aplicou esses instrumentos foi a APAE de Santa Rosa. A instituição já firmou 64 novas parcerias e iniciou nove novos projetos. “Realizamos o diagnóstico utilizando a ferramenta FOFA, em seguida foi usado 5W2H, onde buscou-se parceria com várias entidades e instituições educacionais, e a cada período rodamos o PDCA. Essas ações estão trazendo qualidade de vida para a cidade e região”, diz Cláudia Frey, que participou da capacitação.
Segundo o IBGE, o Brasil possui hoje 338 mil ONGs, que representam cerca de 5% do PIB nacional. No mundo, é de US$ 1,3 trilhão o valor econômico da força de trabalho do voluntariado.  Segundo Lester M. Salamon, catedrático da Universidade Johns Hopkins (EUA), diretor do Centro de Estudos da Sociedade Civil e um dos pioneiros na pesquisa científica sobre o Terceiro Setor, se todos os voluntários formassem um país, ele seria o segundo maior do mundo. E mais: o Terceiro Setor emprega mais pessoas do que a indústria têxtil. Na Holanda 20% da força do trabalho atua no segmento e na Argentina as ONGs empregam mais pessoas do que as 100 maiores empresas.  “Ótimos resultados em gestão são instrumentos para beneficiarmos o público que está dentro de nossas organizações sociais”, defende Maria Elena Pereira Johannpeter.
Serviço
Autoras: Maria Elena Pereira Johannpeter e Naida Menezes
Editora: Editora Unisinos/RS
Páginas: 291
Valor: R$ 37,00 (venda somente na Livraria Humanas, em Porto Alegre)
Distribuição gratuita de mil exemplares para Fundações, organizações sociais, governos, empresas e universidade.

quarta-feira, 4 de julho de 2012

Empresas testam combustível de avião feito com óleo de cozinha usado


Inovação ainda está em fase de testes. Se der certo, pode reduzir em até 40% as emissões de combustíveis de avião

A Air Canada e a Airbus anunciaram, há cerca de 10 dias, que estão realizado testes para o primeiro voo com biocombustível derivado de óleo de cozinha reciclado. O trajeto adotado deverá ser entre Toronto (CAN) e a Cidade do México (MEX).
As empresas alegam que essa e outras medidas devem resultar em uma redução de 40% nas emissões do voo AC 991. De acordo com a Air Canada, a aeronave A319 fará o voo mais ecológico já realizado por uma empresa aérea.
O combustível utilizado é uma mistura de partes iguais de combustível convencional usado regularmente pelos aviões e um biocombustível desenvolvido a partir da reciclagem do óleo de cozinha.
Em um comunicado, a companhia aérea alega que a mistura, desenvolvida pela empresa SkyNRG, foi certificada e é totalmente seguro para uso em aeronaves, sem necessidade de qualquer modificação nos sistemas.
Para reduzir ainda mais o nível de emissões, o voo realizará a rota mais direta entre Toronto e Cidade do México. Ainda segundo a Airbus, será utilizado o chamado perfil de voo vertical, mais eficiente e econômico, além da aplicação do planejamento de descida contínua, que poupa combustível e limita os ruídos.
Ainda não há previsão para a efetivação da troca de combustível.

domingo, 17 de junho de 2012

Brasil é o quinto em novo índice de sustentabilidade criado pela ONU

Um novo indicador lançado neste domingo (17) pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma) coloca o Brasil como a nação com o quinto maior crescimento sustentável anual per capita do mundo, à frente de potências como Estados Unidos e Canadá.
O indicador aplica informações referentes ao capital humano, natural e manufaturado de 20 países para mostrar um panorama mais amplo que o PIB (Produto Interno Bruto), que tem apenas um viés econômico.
Os primeiros lugares no novo índice ficaram, na ordem, com China, Alemanha, França e Chile.
País
Evolução anual do  IRI (% per capita)
China2,1
Alemanha1,8
França1,4
Chile1,2
Brasil0,9
Índia0,9
Japão0,9
Reino Unido0,9
Noruega0,7
EUA0,7
Canadá0,4
Equador0,4
Austrália0,1
Quênia0,1
Colômbia-0,1
África do Sul-0,1
Rússia-0,3
Venezuela-0,3
Arábia Saudita-1,1
Nigéria-1,8
Chamado de Índice de Riqueza Inclusiva (IRI), o objetivo do indicador é incentivar a sustentabilidade dos governos e complementar o cálculo do PIB -- ou mesmo substituir os atuais medidores da economia.
Desenvolvido por especialistas da Universidade das Nações Unidas, a ferramenta reúne informações referentes à educação e expectativa de vida, os recursos florestais, além da produção industrial. Na prática, um país com IRI alto representa que ele é mais sustentável.

Recurso natural em baixa
No relatório, que analisou o período entre 1990 e 2008, a China aparece como o país mais sustentável do mundo, com um índice de 2,1. A Alemanha vem em seguida, com 1,8.

O Brasil teve o IRI de 0,9 no período, o quinto no ranking da ONU, se igualando a Japão e Reino Unido. Nos 19 anos medidos, o PIB brasileiro cresceu 34%, o capital humano aumentou 48% e o capital manufaturado, 8%. Já o capital natural seguiu na contramão, caindo 25%. A justificativa do relatório é que a queda foi causada pelo avanço no desmatamento das florestas e ao aumento das atividades agropecuárias.
No período analisado, por exemplo, a Amazônia perdeu 331.290 km² de cobertura vegetal devido ao desmatamento ilegal – uma área equivalente a mais de sete vezes o tamanho do estado do Rio de Janeiro.

De acordo com Pablo Munhoz, diretor cientifico do relatório, a proposta é uma recomendação do programa ambiental da ONU aos países que participam da Rio+20 e está relacionada “ao bem-estar (...) e nos dá ideia em relação ao crescimento a longo prazo”, disse.

“É importante medir os ativos, mas também é importante ver sua modificação ao longo do tempo”, explica.

Fonte: 
http://g1.globo.com/natureza/rio20/noticia/2012/06/brasil-perdeu-25-dos-recursos-naturais-segundo-novo-indice-da-onu.html

RIO+20-Novo índice mostra crescimento menor de grandes economias

RIO DE JANEIRO, 17 Jun (Reuters) - Alguns países com grandes economias mostram crescimento significativamente baixos quando os recursos naturais, como as florestas e a água, são contabilizados nos indicadores de crescimento, mostrou um índice neste domingo, poucos dias antes do início da conferência Rio +20, no Rio de Janeiro.
O Índice Inclusivo de Riqueza foi mostrado pelo Programa Internacional de Dimensões Humanas das Mudanças Ambientais Globais (UNU-IHDP, na sigla em inglês) e pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma).
Cientistas e grupos ambientalistas estão pressionando os governos para que eles incluam o valor dos recursos naturais dos países - e o uso ou perda deles - nas futuras medições da atividade econômica, para mostrar suas reais perspectivas de crescimento futuras.
A ideia de um indicador expandido, conhecido como PIB+ e que inclui o PIB e o capital natural, estará na agenda do Rio +20, que ocorrerá de 20 a 22 de junho, quando ministros do Meio Ambiente e chefes de Estado de cerca de 200 países tentarão definir metas para o desenvolvimento sustentável.
O índice mostra a "riqueza inclusiva" de 20 nações, levando em consideração as manufaturas e capitais humanos e naturais - como florestas, pescas e combustíveis fósseis - em vez de se importar apenas com o PIB (Produto Interno Bruto) como indicador do crescimento.
Os países avaliados foram: Austrália, Brasil, Canadá, Chile, China, Colômbia, Equador, França, Alemanha, Índia, Japão, Quênia, Nigéria, Noruega, Rússia, Arábia Saudita, África do Sul, Estados Unidos, Grã-Bretanha e Venezuela. O prazo de avaliação foi de 1990 a 2008.
Juntas, essas nações foram responsáveis por quase três quartos do PIB global no período de 19 anos. O índice mostrou que 19 dos 20 países tiveram declínio do capital natural. Seis Estados também testemunharam queda na riqueza inclusiva geral, sendo classificados como insustentáveis, afirmou o Pnuma.
"A Rio +20 é uma oportunidade para pedir um tempo no PIB como medida de prosperidade no século 21, e como barômetro de uma transição para a economia inclusiva verde", afirmou o Subsecretário geral da ONU e diretor executivo do Pnuma, Achim Steiner, em comunicado.
"Ele (PIB) é muito silencioso em grandes medidas de bem-estar humano, isto é, muitos assuntos sociais e o estado dos recursos naturais de uma nação", acrescentou.
O índice mostrou que embora China, EUA, Brasil e África do Sul tenham apresentado crescimento do PIB, seus recursos naturais foram significativamente exauridos.
Quando medidas apenas pelo PIB, as economias de China, EUA, Brasil e África do Sul cresceram 422 por cento, 37 por cento, 31 por cento e 24 por cento, respectivamente, entre 1990 e 2008. Quando a performance é avaliada da outra maneira, a economia chinesa cresceu 45 por cento, os EUA 13 por cento, o Brasil 18 por cento e a África do Sul teve queda econômica de 1 por cento, principalmente devido ao esgotamento dos recursos naturais, informaram o Pnuma e o UNU-IHDP em comunicado.
Seis nações - Rússia, Venezuela, Arábia Saudita, Colômbia, África do Sul e Nigéria - tiveram crescimento negativo na nova medição, mas positivo pelo PIB.

ONU lança na Rio+20 um novo índice que mede o PIB verde dos países


A ONU lançou neste domingo na conferência Rio+20 um novo índice mundial para medir a riqueza das nações, que soma o capital econômico, natural e humano, e mostra que a imensa maioria dos países vivem acima de seus meios ambientais.
O Índice de Enriquecimento Inclusivo (IWI por suas siglas em inglês) é uma espécie de PIB verde destinado a refletir melhor a riqueza real dos países e sua capacidade futura de crescimento, ao levar em consideração a disponibilidade de recursos naturais e educação de suas populações, entre outros fatores.
Por quanto tempo pode crescer um país se avançar apenas economicamente e perder seus recursos naturais, ou não investir o suficiente em sua sociedade?, perguntam seus criadores.
O novo indicador apresentado pela ONU atende ao objetivo número um da conferência sobre desenvolvimento sustentável: obter um acordo mundial para uma transição em direção a uma "economia verde" que preserve os recursos naturais e erradique a pobreza.
"A Rio+20 é uma oportunidade para abandonar o PIB como medida de prosperidade no século XXI", segundo o diretor do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma), Achim Steiner.
A ONU apresentou um primeiro panorama nada animador do IWI mundial em 2012, para 20 países, que inclui as maiores economias emergentes e industrializadas e países em desenvolvimentos, durante um período que vai de 1990 a 2008.
Das 20 nações contempladas, 19 mostraram um forte esgotamento dos recursos naturais, sobretudo as potências emergentes e a maior economia do mundo, os Estados Unidos. Só o Japão se salvou, sendo o único que registrou avanços em seus recursos naturais.
No período estudado, o PIB do Brasil cresceu 34%, mas seu capital natural retrocedeu 25%.
A China, economia que mais cresce no mundo, avançou 422% em seu PIB, mas seu capital natural caiu 17%.
E os Estados Unidos, com um aumento de 37% do PIB nesses anos, viu cair em 20% o seu capital natural.
Levando-se em consideração os três aspectos --PIB, capital natural e humano-- dos 20 países contemplados no estudo, 14 registraram um índice de riqueza inclusivo per capita (IWI) positivo, embora só a China tenha crescido mais de 2%.
Chile, França e Alemanha registraram um crescimento inclusivo acima de 1% e o restante, Índia, Japão, Grã-Bretanha, Noruega, Estados Unidos, Canadá, Equador, Austrália e Quênia, apenas entre 0,1% e 1%.
Em seis países --Colômbia, Nigéria, Rússia, Arábia Saudita, África do Sul e Venezuela-- o crescimento do IWI foi negativo, apesar de todos terem registrado crescimento econômico positivo.
A conferência Rio+20, que na próxima semana receberá cerca de 130 chefes de governo e de Estado do mundo, busca alcançar um pacto mundial para resolver os principais problemas do planeta, cujos recursos naturais estão gravemente ameaçados.

segunda-feira, 14 de maio de 2012

Como criar um desempenho sustentável

Muito bom este artigo da Harvard Business Review, de janeiro de 2012.

Boa leitura! 


Como criar um desempenho sustentável

Escrito por: 
  • Gretchen Spreitzer e Christine Porath
quarta-feira, 11 janeiro, 2012 - 18:11

Quando a economia vai de mal a pior, quando em certas partes do mundo ter emprego — que dirá um emprego financeira e intelectualmente gratificante — já é sorte, preocupar-se com a felicidade do trabalhador pode parecer um despropósito. Mas, em nosso estudo sobre o que garante o reiterado alto desempenho de uma força de trabalho, descobrimos uma boa razão para esse interesse: o trabalhador feliz produz mais do que o infeliz a longo prazo. Raramente falta no trabalho, tem menos chance de deixar a empresa, não se limita a cumprir o dever e atrai gente igualmente comprometida com o trabalho. Além disso, não é um velocista; está mais para um maratonista, alguém comprometido com o longo prazo.

O que significa, então, ser feliz no trabalho? Não se trata de contentamento, que denota certa acomodação. Quando nós e nossos colegas de pesquisa no Center for Positive Organizational Scholarship (Ross School of Business) começamos a examinar fatores envolvidos no desempenho individual e organizacional sustentado, encontramos uma palavra melhor: vicejar. A nosso ver, uma força de trabalho vicejante é aquela na qual o trabalhador não é apenas satisfeito e produtivo, mas também participa da criação do futuro — o da empresa e o próprio. O trabalhador que viceja tem uma certa inquietação — é altamente energizado —, mas sabe evitar o esgotamento.

Independentemente do setor e da ocupação, descobrimos que quem se encaixava em nossa descrição de vicejante exibia um desempenho geral 16% melhor (conforme indicado pelos chefes) e 125% menos esgotamento (segundo relato do próprio indivíduo) do que outros trabalhadores. Era 32% mais comprometido com a organização e 46% mais satisfeito com a atividade. Também faltava muito menos ao trabalho e relatava bem menos visitas ao médico, o que significava economia com plano de saúde e menos tempo perdido para a empresa.

Identificamos dois componentes desse viço. O primeiro é a vitalidade: a sensação de estar vivo, motivado, empolgado. Num ambiente com vitalidade, o trabalhador se sente energizado e energiza os outros. Uma empresa gera vitalidade ao dar às pessoas a sensação de que aquilo que realizam diariamente faz diferença.

O segundo componente é a aprendizagem: o crescimento decorrente da obtenção de novos conhecimentos e habilidades. A aprendizagem pode conferir uma vantagem técnica e o status de especialista. E pode deflagrar um ciclo virtuoso: gente que está desenvolvendo as próprias habilidades tende a acreditar em seu potencial para crescer mais ainda.

Esses dois atributos atuam em conjunto; um sem o outro dificilmente será sustentável e pode até prejudicar o desempenho. A aprendizagem, por exemplo, cria embalo por um tempo, mas sem paixão pode levar ao esgotamento. O que farei com tudo o que aprendi? Por que deveria permanecer nesse emprego? Já vitalidade por si só — mesmo quando a pessoa adora os elogios que recebe por exibir resultados — pode ser embotadora: quando o trabalho não permite nenhum aprendizado, é a repetição da mesma coisa vez após vez.

A combinação de vitalidade e aprendizagem produz trabalhadores que conseguem resultados e acham maneiras de crescer. Seu trabalho é gratificante não só porque executam com êxito o que se espera deles hoje, mas também porque conseguem ver para onde eles e a empresa estão indo. Em suma, estão vicejando, e a energia que criam é contagiante.

Como a organização pode ajudar o pessoal a vicejar

Há trabalhadores que vicejam não importa o contexto. É gente que naturalmente infunde vitalidade e aprendizagem no que faz e que inspira aqueles a seu redor. Um gerente de contratação sagaz buscará esse tipo de indivíduo. A maioria dos trabalhadores, contudo, é influenciada pelo entorno. Até os predispostos a vicejar podem sucumbir sob pressão.

A boa notícia é que — sem medidas heroicas ou grande investimento financeiro — líderes e gerentes podem produzir uma cultura que incentive o pessoal a vicejar. Ou seja, podem vencer a inércia organizacional para promover o viço e a produtividade que se segue — em muitos casos, com uma mudança relativamente modesta em atenção.

Num mundo ideal, a empresa seria abençoada com uma força de trabalho repleta de gente que naturalmente viceja. Mas é possível tomar uma série de medidas para produzir e manter o entusiasmo. Nosso estudo revelou quatro mecanismos que criam as condições para um trabalhador vicejar: dar liberdade para a tomada de decisões, compartilhar informações, minimizar a incivilidade e dar feedback sobre o desempenho. Esses mecanismos se sobrepõem um pouco. Se deixar o indivíduo tomar decisões, mas lhe der informações incompletas ou deixá-lo exposto a reações hostis, a pessoa vai sofrer em vez de vicejar. Sozinho, um mecanismo fará parte do trabalho — mas todos os quatro são necessários para criar uma cultura em que todos vicejem. Vejamos um de cada vez.

Dar liberdade para a tomada de decisões

Em qualquer nível, o trabalhador é energizado pela capacidade de tomar decisões que afetam seu trabalho. Conferir esse poder à pessoa faz com que tenha um senso maior de controle, mais voz em como as coisas são feitas e mais oportunidades para aprender.


O setor de aviação comercial pode parecer um lugar improvável para encontrar essa liberdade para a tomada de decisões (e muito menos uma força de trabalho vicejante), mas peguemos uma empresa que estudamos: a Alaska Airlines, que criou uma cultura de “empowerment” que contribuiu para uma incrível guinada nos últimos dez anos. No início da década de 2000, com os resultados da empresa piorando, a alta administração resolveu lançar o Plano 2010, que solicitava expressamente a opinião do pessoal para decisões que viriam melhorar o serviço sem abalar a reputação de pontualidade da companhia aérea. O pessoal foi orientado a deixar de lado a noção que então tinha de “bom” atendimento e considerar novas maneiras de contribuir, sugerindo ideias que pudessem levar o serviço de bom a verdadeiramente excelente.

O pessoal do balcão de atendimento aderiu ao programa — que deu a todos, por exemplo, liberdade para resolver o problema de gente que tinha perdido o voo ou deixado de embarcar por algum outro motivo. Ron Calvin, diretor da região leste, contou que havia pouco recebera uma chamada no celular de um cliente com quem não tivera contato desde que trabalhara no aeroporto de Seattle, cinco anos antes. O netinho de três meses daquele cliente acabara de ter uma parada cardíaca e os avós, que estavam em Honolulu, tentavam voltar a Seattle. Todos os voos estavam lotados. Ron fez um punhado de chamadas e achou um lugar para os dois imediatamente. Naquele dia, o avô lhe mandou uma mensagem pelo celular em que dizia apenas “Chegamos”.

Esse empenho para atender a necessidades isoladas sem atrasar voos rendeu à empresa a primeira colocação em rankings de pontualidade e uma estante cheia de troféus. A companhia aérea também cresceu consideravelmente em novos mercados, incluindo Havaí, meio oeste e costa leste dos Estados Unidos.

O caso da Southwest é mais famoso, sobretudo pela cultura sabidamente descontraída e atenciosa da empresa. Ali, é comum um comissário de bordo cantar, brincar e, em geral, entreter quem viaja. Além disso, esse pessoal irradia energia e vontade de aprender. Um deles decidiu dar as instruções de segurança antes da decolagem no formato de um rap. Tinha motivação para colocar em ação seu talento especial. Os passageiros adoraram: disseram que pela primeira vez tinham prestado atenção de verdade às instruções.

No Facebook, a liberdade para tomar decisões é fundamental para a cultura. Um funcionário postou um comentário no site expressando surpresa, e prazer, com o lema da empresa: “Move fast and break things” (“aja rápido e quebre coisas”), que incentiva o pessoal a decidir e agir. No segundo dia de trabalho, aquele funcionário encontrou uma solução para um bug complicado. Achou que haveria um exame por toda a chefia, mas seu superior, o vice-presidente de produtos, sorriu e disse: “Manda bala”. O rapaz ficou pasmo por ter criado, tão cedo, uma solução que instantaneamente chegaria a milhões de pessoas.

Para os superiores, o desafio é não retroceder no empowerment quando o pessoal comete erros. Uma situação dessas cria as melhores condições para o aprendizado — não só para as partes envolvidas, mas também para outros, que podem aprender de forma indireta.

Compartilhar informações

Desempenhar suas funções num vazio de informação é maçante e não inspira; não há razão para buscar soluções inovadoras quando não dá para ver o impacto maior. Um indivíduo pode dar uma contribuição mais eficaz quando entende como seu trabalho se encaixa na missão e na estratégia da organização.

A Alaska Airlines optou por investir o tempo da administração para ajudar o pessoal a ter uma visão mais ampla da estratégia. O Plano 2010 foi lançado com uma comunicação tradicional, mas também com um road show que se estendeu por meses e sessões de capacitação para ajudar o trabalhador a compartilhar ideias. Até hoje, o presidente, o superintendente e o diretor de operações saem em campo a cada três meses para colher informações sobre peculiaridades de distintos mercados; em seguida, disseminam o que descobriram. Os benefícios aparecem em indicadores anuais do orgulho que o pessoal sente pela empresa — agora chegando à espetacular marca de 90%.

Na Zingerman’s (uma comunidade no estado americano de Michigan que reúne empresas do setor alimentício e para a qual colaborou Wayne Baker, um colega nosso no Center for Positive Organizational Scholarship), a informação é o mais transparente possível. Embora a organização nunca tenha retido deliberadamente os resultados — a informação financeira sempre esteve à vista para todo funcionário ver —, quando estudaram a gestão com livro aberto (“open book management”) em meados da década de 1990, os cofundadores Ari Weinzweig e Paul Saginaw passaram a acreditar que todo trabalhador mostraria mais interesse se estivesse envolvido no “jogo”.

Implementar uma política de livro aberto mais formal e relevante não foi fácil. O pessoal podia conferir os números, mas tinha poucos motivos para se interessar pela informação e não entendia muito bem a relação dos dados com seu trabalho diário. Nos primeiros cinco ou seis anos, a empresa lutou para inserir o conceito em seus sistemas e rotinas e para fazer o pessoal assimilar o que Baker chama de rigor do “huddle”: o termo em inglês para a reunião semanal em torno de um quadro branco na qual a equipe monitora resultados, mantém um placar e projeta números da semana seguinte. Embora entendesse as regras da gestão com livro aberto, o pessoal no começo não via o sentido de incluir mais uma reunião em sua agenda já atribulada. Foi só quando a alta liderança tornou obrigatório o huddle que o pessoal entendeu o verdadeiro propósito dos quadros brancos, que exibiam não só resultados financeiros, mas também indicadores de serviço e qualidade da comida, médias de contas, dados internos de satisfação e “diversão”, o que poderia incluir de concursos semanais a indicadores de satisfação do cliente, passando por ideias de funcionários para inovação.

Certas empresas da Zingerman’s começaram a instituir “minijogos”: incentivos de curto prazo para corrigir um problema ou explorar oportunidades. A equipe de um restaurante da comunidade, o Road-
house, usou o jogo da “saudação” para determinar quanto tempo demorava para um cliente receber as boas-vindas. Clientes que não eram saudados exibiam menor satisfação — e o pessoal volta e meia se pegava dando cortesias para compensar falhas no atendimento. O jogo desafiou o pessoal da recepção a saudar no prazo de cinco minutos todo cliente que entrava, com uma recompensa financeira modesta para 50 dias seguidos de sucesso — e inspirou essa turma a rapidamente descobrir e corrigir falhas no processo de atendimento, cuja nota melhorou consideravelmente no decorrer de um mês. Outras empresas da Zingerman’s lançaram jogos semelhantes, com incentivos para entrega mais rápida, menos acidentes com facas na padaria (o que reduziria custos de seguro) e uma cozinha mais arrumada.



Naturalmente, os jogos criaram certa tensão interna, pois além de boas notícias também trazem más, o que pode abalar o moral. Mas, no geral, aumentaram muito o senso de posse do pessoal da linha de frente, contribuindo para um melhor desempenho. De 2000 a 2010 a receita da Zingerman’s subiu quase 300%, para mais de US$ 35 milhões; os líderes da empresa consideram a gestão com livro aberto um fator crucial desse sucesso.

Relatos simples dão credibilidade a essa afirmação. Dois anos atrás, por exemplo, vimos Ari Weinzweig dar uma palestra no Roadhouse. Um convidado perguntou se era realista esperar que o garçom ou o ajudante típicos entendessem a estratégia e as finanças da empresa. Em resposta, Ari se dirigiu a um ajudante de cozinha que não vinha tomando parte na conversa: o adolescente se incomodaria de dizer qual a visão da Zingerman’s e indicar se o restaurante estava cumprindo ou não as metas semanais? Sem pestanejar, o rapaz resumiu a visão com as próprias palavras e, em seguida, contou como o restaurante vinha se saindo naquela semana no quesito “pratos enviados de volta à cozinha”.

Embora a Zingerman’s seja uma empresa relativamente pequena, outras bem maiores — como os supermercados Whole Foods e a empresa de transportes YRC Worldwide — também adotaram a gestão com livro aberto. Sistemas que deixam a informação amplamente à vista geram confiança e dão ao trabalhador o conhecimento de que precisa para chegar a boas decisões e tomar a iniciativa com confiança.

Minimizar incivilidade

O custo da incivilidade é imenso. Em estudo realizado com Christine Pearson, professora da Thunderbird School of Global Management, descobrimos que metade dos trabalhadores que haviam sido alvo de condutas incivis no trabalho tinham intencionalmente diminuído seu esforço. Mais de um terço derrubara deliberadamente a qualidade do trabalho. Dois terços perdiam muito tempo evitando o ofensor e aproximadamente a mesma parcela dizia que seu desempenho piorara.

A maioria das pessoas já foi alvo de grosserias no trabalho. Eis um punhado de declarações de nossa pesquisa:

“Meu chefe me pediu para preparar uma análise. Era meu primeiro projeto, e ninguém me deu nenhuma instrução ou exemplo. Ele me disse que o trabalho estava uma porcaria”.

“Meu chefe disse: ‘Se quisesse saber o que você acha, teria perguntado’.”

“Meu chefe me viu tirar um clipe de metal de uns papéis e jogá-lo na lixeira. Na frente dos meus 12 subordinados, me repreendeu (…) e me mandou pegar o clipe de volta.”

“No viva-voz, na frente dos colegas, meu chefe me disse que o trabalho que eu fizera era ‘primário’.”

Ouvimos centenas de histórias — que, infelizmente, soam bem conhecidas para a maioria daqueles que trabalham. Mas não ouvimos tanto sobre os custos. A incivilidade impede que as pessoas vicejem. Quem foi alvo de grosserias volta e meia exibe, também, um comportamento incivil. Sabota os colegas. “Esquece” de copiar colegas em comunicações. Espalha fofocas para desviar a atenção. Diante da incivilidade, um trabalhador tende a estreitar o foco para evitar riscos — perdendo, no processo, oportunidades de aprender. Uma consultoria de gestão que estudamos, a Caiman Consulting, foi fundada como uma alternativa a firmas maiores. Instalada no estado americano de Washington, em espaços que não são particularmente elegantes, a empresa é reconhecida pela cortesia de sua cultura. A checagem de antecedentes no processo de contratação inclui verificar o histórico de civilidade do candidato.

“As pessoas deixam um rastro”, diz o dire-tor da Caiman, Greg Long. “É possível evitar uma cultura corrosiva sendo cuidadoso e cons-ciente logo no começo.”  O diretor-gerente, Raazi Imam, disse: “Não tenho tolerância para gente que esculacha ou desrespeita os outros”. Quando isso acontece, Imam chama o ofensor de lado para deixar clara sua política. Long atribui a taxa de retenção da empresa — 95% — a sua cultura.

A Caiman rechaça candidatos altamente qualificados que não combinam com essa cultura. Também mantém uma lista de consultores que poderiam ser um aporte à firma para o caso de uma vaga abrir. A diretora de RH, Meg Clara, coloca fortes habilidades interpessoais e inteligência emocional entre os principais critérios para a contratação.

Na Caiman, como em toda empresa, os chefes dão o tom quando o assunto é civilidade. Uma única maçã podre pode tirar a cultura do prumo. Um jovem gerente contou o caso da chefe, uma executiva que tinha o hábito de gritar, de sua sala, “Você cometeu um erro!” por uma falta mínima como um erro de digitação. Sua voz ressoava no espaço, fazendo todo mundo se encolher e o destinatário sentir um profundo constrangimento. Na esteira, os colegas se reuniam numa área comum para tomar café e comiserar. Uma pessoa ali de dentro nos contou que a conversa não girava em torno de como subir na empresa ou aprender a ignorar o abuso — mas em uma maneira de se vingar e cair fora.

Em nosso estudo, ficamos surpresos com o reduzido número de empresas que consideram a civilidade — ou a incivilidade — ao avaliar um candidato. A cultura de uma empresa é inerentemente contagiosa; trabalhadores são assimilados ao entorno. Em outras palavras, se buscar civilidade ao contratar, é mais provável que esse traço seja integrado a sua cultura.

Dar feedback sobre o desempenho

O feedback abre oportunidades para o aprendizado e gera a energia tão crucial para uma cultura em que todos vicejam. Ao eliminar a sensação de incerteza, o feedback mantém atividades ligadas ao trabalho focadas em metas pessoais e organizacionais. Quanto mais rápido e mais direto, mais útil o feedback.

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O “huddle” da Zingerman’s, descrito lá atrás, é uma ferramenta para a partilha em tempo quase real de informações sobre o desempenho de indivíduos e do negócio. Líderes traçam altos e baixos diários no quadro branco — com a expectativa de que o pessoal assuma a responsabilidade pelos números e sugira ideias para endireitar o rumo, quando necessário. Essas reuniões incluem, ainda, “códigos vermelhos” e “códigos verdes”, que registram queixas e elogios de clientes de modo que todo funcionário possa aprender e crescer com base em feedback imediato e tangível.

A Quicken Loans, empresa de crédito imobiliário que mede e premia o desempenho de funcionários como nenhuma outra organização, dá um feedback de desempenho continuamente atualizado usando dois tipos de indicador: um “ticker” e um painel kanban (o kanban, que em japonês significa “sinal”, é usado com frequência em operações).

O ticker tem vários painéis exibindo indicadores individuais e coletivos, além de dados que indicam a probabilidade de um indivíduo de cumprir suas metas diárias. As pessoas são programadas para responder a pontuações e metas, de modo que os indicadores mantêm todas energizadas ao longo do dia; na prática, estão competindo com seus próprios números.

O painel kanban permite que gerentes monitorem o desempenho das pessoas para que saibam quando um funcionário ou uma equipe precisam de algum coaching ou outro tipo de assistência. Uma versão do painel kanban também é exibida em monitores, com uma lista (que vai mudando) dos 15 melhores vendedores em cada quesito. Funcionários estão em constante competição para entrar para as listas, que são quase como um ranking das maiores pontuações num game.

O pessoal podia se sentir sobrecarregado ou até oprimido pela natureza constante do feedback. Mas não. As normas fortes da empresa quanto a civilidade e respeito, e para dar voz ao pessoal sobre a forma como realiza seu trabalho, criam um contexto no qual o feedback é energizante e promove o crescimento.

O escritório internacional de advocacia O’Melveny & Myers louva o uso de avaliações de 360 ​​graus para ajudar o trabalhador a vicejar. O feedback é aberto e sintetizado — em vez de compartilhado textual-
mente —, o que contribuiu para uma taxa de resposta de 97%. Carla Christofferson, sócia-gerente do escritório em Los Angeles, descobriu, ao receber sua avaliação, que os outros consideravam seu comportamento conflitante com o expresso compromisso da firma com o equilíbrio entre vida pessoal e trabalho — e que isso vinha causando estresse entre o pessoal. A advogada começou a passar menos tempo no escritório e a limitar o trabalho no fim de semana a coisas que pudesse fazer em casa. Virou um exemplo de equilíbrio, o que contribuiu muito para dissipar o temor de gente que queria ter uma vida fora do trabalho.

Os quatro mecanismos que ajudam o trabalhador a vicejar não exigem grande esforço ou investimento. O que exigem são líderes dispostos a dar poder ao pessoal e a dar o exemplo. Como observamos lá atrás, cada mecanismo oferece um ângulo distinto e necessário para que todos vicejem. Não dá para escolher um ou dois de uma lista; um mecanismo reforça o outro. Alguém, por exemplo, vai se sentir à vontade para tomar decisões se não tiver informações fidedignas sobre os números atuais? Vai poder tomar boas decisões se tiver medo de ser ridicularizado?

Para criar as condições para que todos vicejem é preciso uma atenção concertada. Ajudar alguém a crescer e a se manter energizado no trabalho é algo valioso por si só — mas que também pode melhorar o desempenho da empresa de forma sustentável. 

Gretchen Spreitzer é professora de administração e organizações na Ross School of Business (University of Michigan), nos EUA.
Christine Porath é professora assistente da McDonough School of Business (Georgetown University), nos EUA.

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