segunda-feira, 20 de agosto de 2012

O metabolismo social do desenvolvimento sustentável


20/08/2012 18:20:16

O metabolismo social do desenvolvimento sustentável

Ricardo Abramovay*
Metade da população mundial encontra-se hoje em 19 países asiáticos, cujas economias foram estudadas pelo Sustainable Europe Research Institute (Seri) de Viena com base numa pergunta decisiva para o desenvolvimento sustentável: em que consiste o metabolismo que estas sociedades estabelecem com a natureza?
Trata-se de saber como são usadas as bases materiais em que se apoia a oferta de bens e serviços que compõem a riqueza de diferentes países. Para isso, são estudados quatro tipos de materiais absolutamente indispensáveis para a vida moderna: biomassa, energias fósseis, minerais e produtos metálicos. São produtos cuja oferta não é infinita e cuja utilização aumenta com a população e a riqueza.
O caráter limitado de sua oferta exige que se coloquem duas questões fundamentais quanto ao seu uso: a primeira refere-se à eficiência com que são extraídos da superfície terrestre, transformados, utilizados e, quando for o caso, reutilizados ou reciclados. Nas sociedades contemporâneas, parte cada vez mais significativa das inovações tecnológicas volta-se para a redução da energia empregada na obtenção destes materiais, a diminuição de sua presença nos diferentes produtos e a ampliação das chances de sua reutilização. Este é o objetivo fundamental dos sistemas de inovação focados na sustentabilidade.
Mas há uma segunda questão central que não pode ser evitada diante da escassez relativa dos materiais de que depende a vida social: a que finalidade sua utilização se destina? Que grupos sociais são principalmente beneficiados com seu uso? Quais seus efeitos globais sobre o bem-estar da espécie humana?
Os 19 países asiáticos estudados pelo Seri compreendem 90% da população asiática (sem contar a Rússia e os antigos componentes da União Soviética) e 20% do PIB mundial. São imensas as desigualdades entre eles, já que na lista estão Japão, Coreia, Israel, Cingapura, mas também China, Índia, Indonésia, Bangladesh, Tailândia e Paquistão. Como é a região de maior crescimento econômico do mundo, seu metabolismo social é uma das mais importantes questões globais da atualidade.
Em 2005, o consumo dessa metade da população mundial exigia que se retirassem da superfície terrestre, anualmente, 18 bilhões de toneladas destes quatro tipos de materiais (biomassa, minérios, metais e combustíveis fósseis). Este total era de nove bilhões de toneladas em 1985. Na época, esses países consumiam 22% dos recursos mundiais, proporção que passa para 31% em 2005. A Ásia é hoje o centro da economia mundial, não só em termos de crescimento econômico e consumo, mas também é a região em que mais se eleva o ritmo de utilização de materiais e energia. E essa utilização é marcada por uma dupla desigualdade, sem cujo enfrentamento é impossível sequer conceber a ideia de desenvolvimento sustentável.
A primeira refere-se à quantidade de materiais utilizada pelos indivíduos e pelas diferentes economias. Enquanto Japão, Cingapura, Israel e Coreia têm média de 11 a 15 toneladas per capita de extração de materiais, Bangladesh não vai além de 1,1, a Índia fica em torno de 2,8, e a China atinge 6,2 toneladas per capita. A média europeia é próxima à dos mais desenvolvidos países asiáticos, e a do Canadá e dos Estados Unidos chega a 25 toneladas per capita. Não há como ampliar a infraestrutura desses últimos países sem que aumentem os materiais de que depende a construção de novas estradas, fábricas, hospitais, bibliotecas, enfim, das condições indispensáveis para o próprio desenvolvimento. Ao mesmo tempo, como imaginar que este uso chegue ao nível dos países desenvolvidos sem exaustão destes recursos?
Daí a importância de uma segunda desigualdade, cujas bases são as diferenças de avanço científico e tecnológico entre os países: a mesma quantidade de materiais pode resultar em utilidades muito maiores a depender da maneira e das finalidades com que são empregados. Em outras palavras, a produtividade material das economias é muito variada. No Japão, cada tonelada de material consumida resulta na produção de quase US$ 2,5 mil. Na média asiática, este valor vai pouco além de US$ 500 e na média mundial fica aquém de US$ 650. Sistemas de inovação voltados para a sustentabilidade têm justamente a função de permitir que a mesma unidade de materiais se exprima em quantidade cada vez maior de riqueza. Isto se obtém pela ampliação na própria eficiência com que os materiais são empregados. Aumentar a produtividade dos recursos é, certamente, uma das bases do desenvolvimento sustentável.
E neste particular, o trabalho do Seri apresenta duas conclusões preocupantes. Em primeiro lugar, nos países que mais crescem neste conjunto asiático, o uso de recursos acompanha pari passu a própria ampliação na oferta de bens e serviços: o crescimento não se emancipa, não se descola de sua dependência com relação aos bens materiais finitos dos quais ele depende. E a segunda conclusão é que parte da capacidade, que tiveram os países mais ricos de descasar relativamente seu crescimento dessas bases materiais, deriva de avanço científico e tecnológico, mas também do fato de que suas indústrias mais sujas e pesadas foram transferidas para nações mais pobres.
O resultado é que, por mais importante que sejam as inovações tecnológicas na emergência do desenvolvimento sustentável, será necessário igualmente discutir a que finalidades e com que benefícios sociais são usados os recursos ecossistêmicos em que o crescimento econômico se apoia. Utilizar ferro, plástico, borracha e vidro para produzir automóveis que congestionam as regiões metropolitanas, e usar terra, adubos e agrotóxicos para oferecer alimentos que resultam em crescente obesidade são formas cada vez menos admissíveis de estimular as atividades capazes de garantir sucesso na luta contra a pobreza. Na raiz das doenças metabólicas das sociedades contemporâneas, está o próprio sentido de suas atividades econômicas.
Esses temas serão discutidos por Eduardo Giannetti da Fonseca, Ladislau Dowbor e Matthew Shirts, por ocasião do lançamento de Muito Além da Economia Verde, no dia 20 de agosto, às 19 horas, no Teatro Eva Herz, no Conjunto Nacional, em São Paulo.
* Ricardo Abramovay é professor titular da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade (FEA) e do Instituto de Relações Internacionais (IRI), ambos da Universidade de São Paulo (USP), pesquisador do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e da Fapesp, e autor de Muito Além da Economia Verde, lançado na Rio+20 pela Editora Planeta Sustentável.
** Publicado originalmente no site Ricardo Abramovay.
(Ricardo Abramovay)


Fonte: http://mercadoetico.terra.com.br/arquivo/o-metabolismo-social-do-desenvolvimento-sustentavel/

domingo, 19 de agosto de 2012

Capital recebe 1º Fórum Internacional de Mudanças Climáticas das Cidades de Baixo Carbono

 • Notícias

Será realizado no próximo dia 27 de agosto, em Porto Alegre, o 1º Fórum Internacional de Mudanças Climáticas das Cidades de Baixo Carbono, numa promoção do Instituto Latino Americano de Desenvolvimento Econômico Sustentável – ILADES – e Secretaria Municipal do Meio Ambiente – SMAM. O evento ocorrerá no auditório do Ministério Público Estadual- Torres Gêmeas Av. Aureliano de Figueiredo Pinto, 80 com o objetivo de debater a qualidade de vida das cidades e os mecanismos econômicos para viabilizar este mercado.
Entre os temas em debate, inclui-se a proposta de criação da primeira Bolsa de Carbono local, inspirada no modelo da Santiago Climate Exchange, já implantada em Santiago do Chile, cuja concepção será apresentada pelo seu presidente, Carlos Berner.
O presidente do ILADES, o advogado gaúcho Marcino Fernandes Rodrigues, observa que, a exemplo de sua congênere chilena, a Bolsa de Porto Alegre terá, entre suas atribuições, buscar identificar riscos e oportunidades em atividades produtivas, mobilidade urbana, resíduos orgânicos, geração de energias renováveis e planejar a redução de emissões atmosféricas de setores poluentes, certificando e negociando créditos de carbono junto a empresas e outras organizações do país e do exterior com passivos ambientais.
Entre os palestrantes de destaque, também já confirmados, incluem-se o secretário de Mudanças Climáticas e Qualidade Ambiental do Ministério do Meio Ambiente, Carlos Klink, que mostrará como acessar os recursos do Fundo Nacional de Mudanças Climáticas (Fundo Clima) e o coordenador geral do Meio Ambiente e Mudanças Climáticas do Ministério da Fazenda, Aloisio Melo, que abordará as perspectivas da criação do Mercado de Carbono do Brasil e suas repercussões econômicas.
Fonte: ILADES
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