quarta-feira, 30 de março de 2011

SITE DA SUSTENTABILITÁ

O site da Sustentabilitá Consultoria em Responsabilidade Social já está no ar.
Faça-nos uma visita e conheça nosso trabalho:
http://www.sustentabilita.com.br/

terça-feira, 29 de março de 2011

Sustentabilitá no Facebook

A Sustentabilitá já tem uma página no Facebook com link direto! 
http://www.facebook.com/sustentabilita
Obrigada a todos que estão curtindo!!!!

domingo, 27 de março de 2011

Pavimento permeável: solução sustentável para a redução de enchentes

As enchentes constituem-se num problema que se agrava cada vez mais nas metrópoles brasileiras, ocasionando tragédias como a que se abateu sobre a Região Serrana do Rio de Janeiro, no início deste ano de 2011. A progressiva impermeabilização das cidades, ocasionando maior volume de água que chega em muito menos tempo aos córregos e rios, é uma das principais causas da ocorrência de enchentes atualmente. O pavimento permeável é uma das melhores opções para minimizar a impermeabilização das cidades, por suas características de permitir a infiltração da água para o solo e por sua versatilidade de uso, pois pode ser utilizado em calçadas, parques, praças, quadras poliesportivas, estacionamentos e ruas de tráfego leve.
O pavimento permeável já é utilizado com sucesso há mais de trinta anos nos Estados Unidos e em países europeus, como Inglaterra e Alemanha, embora de uso relativamente recente no Brasil. A técnica, porém, já tem inclusive orientações técnicas para profissionais da construção, como a recém-lançada, pela Associação Brasileira de Cimento Portland (ABCP), cartilha sobre as “Melhores Práticas – Pavimento Intertravado Permeável”.  De acordo com a engenheira Mariana Marchioni, da ABCP, uma comissão da Associação Brasileira de Normas Brasileiras (ABNT) deve começar a trabalhar em breve no desenvolvimento de norma específica para o pavimento intertravado de concreto permeável.
Segundo o arquiteto Carlos Alberto Tauil, consultor técnico da BlocoBrasil – Associação Brasileira de Fabricantes de Blocos de Concreto, “ a criação de normas, cartilhas e orientações técnicas para o projeto e execução do sistema de pavimento intertravado de concreto permeável é fundamental para termos obras de qualidade, adequadamente projetadas e executadas”. Essa preocupação, de acordo com o arquiteto, deve-se ao fato de que muitas prefeituras e mesmo construtoras e incorporadoras muitas vezes não seguem as orientações técnicas, realizando obras com pavimento intertravado de concreto sem projeto ou sem seguir o determinado pelo projeto.
As obras de pavimentação de calçadas, parques, estacionamentos e ruas, entre outras, que utilizam o sistema de pavimento permeável precisam também seguir rigorosamente o especificado pelo projeto, que define por exemplo qual a destinação da água (reservatório granular  e deste para um ponto de drenagem ou ser absorvida pelo solo), o dimensionamento da espessura das camadas, estabelecido em função de diversos fatores (volume e tipo de tráfego: pesado, médio ou leve), entre outros fatores. “As premissas para uma obra sustentável de pavimento intertravado permeável são, assim como no pavimento convencional, a existência de um bom projeto e uma execução cuidadosa, que siga o especificado no projeto”, avalia Tauil.
De acordo com os especialistas, seguidas as boas normas técnicas para o projeto e a obra, que deve utilizar sempre o produtos fabricados com empresas que têm o Selo de Qualidade da ABCP, o pavimento permeável é uma das melhores soluções para evitar a impermeabilização das cidades e, portanto, para a prevenção das enchentes.  “O pavimento intertravado de concreto permeável é uma opção importante e que deve ser sempre considerada por administradores públicos, projetistas, incorporadores e construtores. A sociedade só tem a ganhar com o seu uso”, afirma Tauil.

Dan Epstein em palestra no 2º Fórum Mundial de Sustentabilidade: 'Estamos construindo para daqui a 100 anos'


Diretor de Sustentabilidade e Regeneração Urbana dos Jogos Olímpicos de Londres 2012 afirma que a sustentabilidade não custa mais.
 
    São Paulo, 25 de março de 2011 - O diretor de Sustentabilidade e Regeneração Urbana dos Jogos Olímpicos de Londres 2012, Dan Epstein, compartilhou ontem em Manaus, durante o 2º Fórum Mundial de Sustentabilidade, realizado pela Seminars e promovido pelo LIDE (Grupo de Líderes Empresariais), os preparativos de Londres para  receber este importante evento.

    Durante a palestra "Grandes Eventos e Cidades Sustentáveis", Epstein defendeu a ideia de que "a eficiência energética não custa mais", se planejada em todas as etapas - desde a escolha dos materiais ao uso de tecnologias sustentáveis. "O importante é que estamos construindo para daqui a 100 anos. A sustentabilidade trará muitos benefícios no futuro, pois permitirá menos gasto com energia e pessoas mais felizes e saudáveis", defendeu.  

    "Não queremos deixar um legado de infraestrutura que depois ninguém vai usar. Precisamos pensar em maneiras inteligentes de utilizar tudo depois. Os Jogos são uma oportunidade para criarmos uma perspectiva sobre como o homem deve se relacionar com o meio ambiente", disse. 

    Epstein lembrou que, para os Jogos Olímpicos de Londres, foram definidos os 12 objetivos prioritários (muitos inseridos no conceito de "sustentabilidade") para as ações relacionadas ao projeto olímpico: emissão zero de carbono; produção zero de lixo; transporte sustentável; água limpa; biodiversidade; baixo impacto ambiental; apoio às comunidades locais; acesso; emprego e negócios; saúde e bem estar; e inclusão social.

    Transporte Público - Sobre alternativas para o transporte durante os Jogos, Dan afirmou que este item é sempre o principal problema durante os Jogos Olímpicos. Epstein defendeu a adoção de uma política de transporte público, que, além de beneficiar um número maior de pessoas, representará um "legado" para as cidades. Informou que Londres já dispendeu 1 milhão de libras até agora somente no projeto 
de transporte público para os Jogos Olímpicos de 2012.

    Segundo Epstein, o mundo está olhando o Rio e o governo brasileiro. "Coloquem de lado os problemas e a maneira tradicional de trabalhar. Reúnam todos, coloquem o ego de lado e trabalhem juntos. O prêmio é enorme: 4 bilhões de pessoas olharão para isso", destacou. "Digam aos políticos que eles passarão a ser amados depois disso", concluiu Epstein, que foi muito aplaudido pelos participantes do 2º Fórum Mundial de Sustentabilidade, em Manaus (Brasil).

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FONTE:SEMINARS
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Fonte: http://www.prnewswire.com.br/news/110300000405.htm

Palestrantes do 2° Fórum Mundial de Sustentabilidade falam sobre iniciativas sustentáveis nas empresas


Adoção de combustíveis limpos e investimentos em tecnologias alternativas estão entre as características das companhias do futuro.
     São Paulo, 26 de março de 2011 - Durante o 2º Fórum Mundial de Sustentabilidade, realizado pela Seminars e promovido pelo LIDE (Grupo de Líderes Empresariais), em Manaus, os debates contaram com a presença do empresário e autor Paul Hawken e do autor e diretor de Sustentabilidade da Saatchi & Saatchi, Adam Werbach.
     Adam Werbach proferiu palestra com o tema "Internalizando a sustentabilidade nas empresas", com exemplos de inovações praticadas pelas companhias. Segundo ele, as empresas sustentáveis terão melhor desempenho nos próximos anos. "As leis são necessárias, mas também os mercados determinam o que é importante: as empresas com mais sucesso serão as sustentáveis, as outras ficarão decadentes", destacou.
    No entendimento de Paul Hawken, o critério para definir as empresas bem-sucedidas deve vir de sua contribuição com o social. “Devemos investir nas empresas que ajudam as pessoas; caso contrário, não devemos investir nessa companhia", defendeu. Hawken destacou o papel de liderança do Brasil. "Eu não vim aqui pelas belezas naturais, música e brasileiras maravilhosas; eu vim passar uma mensagem: o Brasil está no momento de criar e ser um dos países mais importantes do mundo e o mundo tem fome de liderança", disse. Em sua opinião, sustentabilidade é uma forma coletiva de ver o mundo. "Precisamos entender que tudo está conectado. Ninguém faz nada sozinho. Fazemos tudo coletivamente", complementou.
    Werbach
    Adam Werbach é o autor do novo livro "Estratégia para a Sustentabilidade". Como Chefe de Sustentabilidade
Officer da Saatchi & Saatchi, Werbach lidera iniciativas de sustentabilidade em países como China, África do Sul e Brasil. Assessora empresas como Wal-Mart, Procter & Gamble e AT&T. Aos 23 anos, foi eleito o presidente mais jovem da história do Sierra Club, a maior e mais antiga organização ambiental dos EUA.
    Hawken
   Paul Hawken escreveu sete livros, incluindo quatro best-sellers nacionais. Seus livros foram publicados em mais de 50 países em 27 idiomas. Hawken fundou várias empresas, incluindo as primeiras companhias de alimentos naturais dos EUA, que se baseiam exclusivamente em métodos agrícolas sustentáveis. Trabalhou como coordenador de imprensa na equipe de Martin Luther King Jr. (1965). Fundou o Natural Capital Institute e criou a Wiser Earth, uma plataforma que liga as ONGs, fundações, governos, cientistas e cidadãos preocupados com o meio ambiente.
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sexta-feira, 25 de março de 2011

quarta-feira, 23 de março de 2011

Entrevista com Roberto Leite - Críticas aos Relatórios de Sustentabilidade divulgados pelas empresas

Roberto Leite é um dos colaboradores do blog “Testando os limites da sustentabilidade”, lançado há pouco mais de sete meses. O objetivo do canal eletrônico é analisar a qualidade dos balanços sociais apresentados pelas empresas, a qualidade das ações sustentáveis, bem como a capacidade de resposta das organizações para com os questionamentos sobre o referido tema.
Em entrevista exclusiva para o Responsabilidade Social.com, Leite faz duras críticas aos relatórios divulgados e afirma: “Vejo que alguns balanços são mais panfletos de boas intenções do que realmente algo capaz de facilitar as análises do processo de gestão das empresas”. Leia e entrevista na íntegra.

1) Responsabilidade Social - O senhor é um dos responsáveis pelo blog “Testando os limites da sustentabilidade”, cujo o objetivo é analisar a qualidade dos balanços de sustentabilidade apresentados pelas empresas. Como esse espaço foi pensando e desde quando ele está no ar?
Roberto Leite
 - O blog foi desenvolvido como um espaço de discussão entre as pessoas que se interessam pelo tema de como os balanços de sustentabilidade das empresas se sustentam. Notamos que muitas empresas não estão preparadas para responder aos questionamentos que elas mesmas levantaram em seus relatórios.
Em muitos casos é muito complicado e penoso conseguir uma resposta e o nosso blog revela até uma certa dificuldade que a sociedade possui em obter certas informações. Algumas empresas até me perguntam por que queremos determinados dados. Eu sempre respondo: ‘Porque vocês publicaram’. O blog está no ar desde agosto de 2010 e estamos impressionados com o retorno das pessoas e o interesse pelo tema.
2) RS - E qual é a sua opinião sobre a qualidade dos relatórios de sustentabilidade atualmente?
RL
 - Não sou auditor ou especialista para dar meu parecer, mas como um leigo que se interessa pelo tema, vejo que alguns balanços são mais panfletos de boas intenções que realmente algo capaz de facilitar as análises do processo de gestão das empresas. Nota-se que a parte financeira é cheia de gráficos e indicadores, já a parte ambiental e principalmente a social são um conjunto de informações soltas e projetos que não comprovam a eficácia da ação.
3) RS – A abertura de informação pelas empresas parece ser parte de qualquer estratégia de sustentabilidade. Isso está realmente mudando o perfil de investimentos?
RL
 – Sinceramente não. Ainda não vejo isso como um indicativo de investimento. Pergunte para a Bovespa [Bolsa de Valores de São Paulo] qual o critério para uma empresa estar no ISE [Índice de Sustentabilidade Ambiental]. Sustentabilidade não é o critério principal (http://testandooslimitesdasustentabilidade.blogspot.com/search/label/bovespa).
Se eu fosse um investidor interessado em sustentabilidade não usaria o ISE como referencial. Quantos economistas hoje entendem de desenvolvimento sustentável? Investimentos sustentáveis é uma política de mudança de cultura de longo prazo. Estamos muito no começo.
4) RS – Quais as principais mudanças que o senhor observou em relação aos balanços apresentados ao longo do tempo?
RL
 - Os balanços ficaram mais padronizados pelo GRI [Global Reporting Initiative], o que facilitou a comparação e busca por respostas e consequentemente resultados. Graças ao índice do GRI você pode focar as análises nos dados corretos sem se perder no meio de fotos bonitas.
5) RS – O senhor poderia citar algumas empresas, que na sua opinião, têm práticas socioambientais consistentes?
RL
 - Fíbria, Natura, Petrobras e Vale. Entre os bancos, que têm muito que melhorar ainda, cito o Bradesco e o Bando do Brasil, apesar do atendimento ser horrível.
6) RS – O blog também busca discutir sobre as ações de sustentabilidade divulgadas pelas empresas para que a sociedade possa cobrar um posicionamento dessas instituições. O senhor acha que os consumidores realmente têm o poder de mudar as companhias?
RL
 - Têm sim muito poder. Com uma posição simples: Não compre mais. As empresas têm que entender que quem rege o mercado não são os investidores, mas os consumidores. Algo só existe porque a gente compra.
7) RS – E como o senhor avalia os consumidores brasileiros hoje? Já é possível considerá-los conscientes?
RL
 - Não. Estamos muito longe disso. Vivemos uma explosão de consumo, o crescimento da classe ‘C’ levou várias pessoas a um patamar de consumo que dificilmente a curto prazo vai levar a algum nível de consciência socioambiental e não podemos julgá-los por isso. Seria injusto, eles têm tanto direto de consumir quanto as classes A e B.
Vejo que essa consciência tem que partir de início entre aqueles que já estão satisfeitos com o que consomem e com isso possuem poder para negociar condições mais justas e sustentáveis no fornecimento de produtos e serviços. Tudo é um processo muito lento, mas que pode ser mudado e depende de cada um de nós.
8) RS – O que o senhor entende por responsabilidade social?
RL
 - Responsabilidade social é quando uma organização sabe quais são os seus impactos na sociedade e trabalha ao máximo para minimizá-los. Ser socialmente responsável não é abraçar árvores e levar o Papai Noel para visitar crianças carentes, mas saber que seu processo de gestão impacta a vida de várias pessoas e que sua responsabilidade é inerente em trazer qualidade de vida para todos, passando pelo funcionário, consumidor, fornecedor, comunidades e tantos outros.

Cynthia Ribeiro

Fonte: http://www.responsabilidadesocial.com/article/article_view.php?id=1237

terça-feira, 22 de março de 2011

Fórum e Exposição Energias Renováveis e Alternativas no Cone Sul- ERACS

A Câmara de Comércio Brasil-Portugal/Rio Grande do Sul realizará o Fórum e Exposição Energias Renováveis e Alternativas no Cone SulERACS nos dias 11, 12 e 13 de maio de 2011 no Centro de Eventos da PUCRS, em Porto Alegre, RS. O ERACS conta com o apoio do Governo do Estado do Rio Grande do Sul, do Conselho das Câmaras Portuguesas de Comércio no Brasil e da Assembléia Legislativa do Rio Grande do Sul.
Leia mais no site: http://www.eracs.org.br/conteudo/view?ID_CONTEUDO=51

segunda-feira, 21 de março de 2011

Lixo Tecnológico

Isaura Morél*

Agora a moda é falar em lixo tecnológico. Este tipo de resíduo, também chamado de lixo eletrônico ou e-lixo, é todo aquele gerado a partir de equipamentos eletro-eletrônicos, eletrodomésticos, seus componentes e também acumuladores de energia (pilhas e baterias).
O padrão de geração de lixo doméstico vem mudando ao longo dos anos. Se antigamente a maior parte dos resíduos gerados nas residências era de caráter orgânico (restos de alimentos), hoje em dia imperam os de tipo seco. Além de uma série de produtos, previamente criados para serem descartáveis, tais como embalagens de diversos tipos, é crescente o consumo de bens ditos “duráveis”.
Há alguns anos a revolução digital e o crédito fácil vem contribuindo para a expansão nas vendas de produtos tecnológicos. Enquanto isso, a grande oferta e variedade desses itens, que chegam às lojas cada vez mais modernos e com novas funcionalidades, são convidativos ao consumo e à troca cada vez mais freqüente por modelos atuais.
Segundo a Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica, o faturamento desse setor em 2010 chegou a R$ 124 bilhões, o que representa crescimento de 11% em relação a 2009 (R$ 112 bilhões). Para 2011, a previsão é de que o faturamento da indústria eletroeletrônica cresça 13% em relação a 2010, atingindo cerca de R$ 140 bilhões. Em 2010, só o mercado de PC’s no Brasil atingiu 14 milhões de unidades, superando em 17% o observado no ano de 2009 (12 milhões)[1].
Em nível mundial, o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma) realizou um estudo, divulgado em fevereiro deste ano, no qual consta que a geração de lixo eletrônico cresce a 40 milhões de toneladas por ano.
A pior faceta do lixo tecnológico, no entanto, não é somente o seu volume, mas principalmente, o tipo de resíduo gerado. Computadores e notebooks, por exemplo, possuem componentes que contém metais pesados, sendo alguns, como chumbo, cromo, cádmio e berílio, altamente tóxicos se ingeridos pelo corpo humano. A grande preocupação é que, como a maior parte do lixo no Brasil ainda vai parar em lixões, o risco de contaminação da água e do solo por esses metais é bastante grande.
Para combater um cenário de catástrofe ambiental e, ao mesmo tempo, enfrentar um paradoxo existente no país, que é a exclusão digital, há várias iniciativas que ganham importância. O CDI – Comitê para a Democratização da Informática, por exemplo, é uma organização atuante no Brasil e América Latina, que trabalha com inclusão digital e geração de trabalho e renda através da tecnologia. São oferecidos, por exemplo, cursos de informática e de capacitação em manutenção de computadores. A organização recebe os equipamentos em funcionamento para os seus projetos sociais, e também, lixo tecnológico para encaminhar à reciclagem.
Outra iniciativa é do Centro de Descarte e Reúso de Resíduos de Informática da USP, que atua de maneira semelhante, recebendo computadores que são encaminhados para projetos de inclusão digital, além de oferecerem serviço de descarte de materiais de informática para reciclagem.  
Mas não é só de resíduos da informática que é feito o lixo tecnológico. Para exemplificar, o programa de TV “Cidades e Soluções”, do canal Globo News, apresentou recentemente o tema do e-lixo a partir de algumas iniciativas e empreendimentos. Um deles foi o caso de uma indústria, única na América Latina a reciclar 100% dos componentes de refrigeradores e freezers, incluindo o nocivo gás CFC.
Mesmo sabendo que algumas iniciativas ainda são incipientes e localizadas, há de se reconhecer e comemorar o início de uma mudança de mentalidade e um avanço no tratamento de lixo no Brasil. Muitas empresas já estão atentas para as suas responsabilidades ambientais. Agora, cabe aos consumidores também buscarem informações sobre os produtos que utilizam e sobre sua destinação correta.
Portanto, quando você for descartar lixo, especialmente os eletrônicos e tóxicos, procure o fabricante, o fornecedor, o serviço de limpeza urbana da sua cidade, ou ainda, programas de reciclagem, e ajude a dar um fim correto a essa história.

* Diretora na Sustentabilitá Consultoria em Responsabilidade Social
isaura.morel@sustentabilita.com.br

Logística Reversa: revertendo o papel do lixo na sociedade

Isaura Morél*


As discussões sobre o tema Sustentabilidade são muito extensas e estão em voga no meio empresarial, acadêmico e político. Levando-se em consideração o “tripé” no qual é ancorado esse conceito (perspectivas financeira, social e ambiental), pode-se discorrer sobre uma série de ações que estão sendo colocadas em prática para garantir o desenvolvimento econômico e sustentável da nossa sociedade, entre as quais podemos citar a Logística Reversa.
A Logística Reversa é um importante instrumento, previsto na Política Nacional de Resíduos Sólidos, que consiste em “um conjunto de ações, procedimentos e meios destinados a viabilizar a coleta e a restituição dos resíduos sólidos ao setor empresarial, para reaproveitamento, em seu ciclo ou em outros ciclos produtivos, ou outra destinação final ambientalmente adequada[1]. O objetivo dessa área da logística está intimamente relacionado a outro conceito que é o de “ciclo de vida” do produto, segundo o qual a “vida” de um produto não acaba na venda para o consumidor. Quando o produto torna-se obsoleto ou danificado para uso, ele deve retornar ao seu ponto de origem, através de descarte adequado e reaproveitamento de matérias primas.
Uma das conseqüências positivas desse processo é a diminuição do volume de lixo liberado no meio ambiente. Segundo dados do IBGE, da Pesquisa Nacional de Saneamento Básico de 2008[2], a quantidade de resíduos sólidos coletados foi de 259.547 toneladas por dia, em todo o país! E ainda conforme esta pesquisa, 50,8% dos municípios brasileiros destinam seus lixos a vazadouros a céu aberto, ou como são popularmente chamados, “lixões”.
 Nesse sentido, as empresas têm um importante papel social a cumprir, e podem contribuir diminuindo a quantidade e selecionando melhor o material das embalagens de seus produtos (não-tóxicos, recicláveis), e também, aplicando a Logística Reversa como forma de garantir o reaproveitamento de produtos ou materiais recicláveis. Mas esse sistema, é claro, exige um investimento para implantação do processo de produção reverso (recuperação dos materiais), que pode ser feito dentro da própria empresa, ou ser terceirizado. Além disso, a gestão do ciclo de vida dos produtos depende dos canais de distribuição reversa, que precisam funcionar de forma eficaz. E para isso acontecer, não basta somente o engajamento das empresas, mas também de outros agentes envolvidos no processo, como por exemplo, os municípios, que são os responsáveis pela coleta de lixo, além de uma rede de sistemas de reciclagem. O processo é complexo e necessita de parcerias, pois visa reunir materiais distribuídos geograficamente.
Em contrapartida, pode ser assinalada outra conseqüência positiva no uso do sistema de logística reversa: o retorno financeiro. Esse fato já pode ser comprovado em alguns exemplos de sucesso no Brasil, como é o caso das indústrias de bebidas, com a reciclagem de garrafas PET e latinhas de alumínio. Para se ter uma idéia da economia, conforme a Associação Brasileira do Alumínio, para reciclar 1 (uma) tonelada de latas são gastos apenas 5% da energia necessária para produzir a mesma quantidade de latas feitas de alumínio virgem.
A tendência, ao que tudo indica, é que as organizações encontrem na Logística Reversa uma ferramenta para seu próprio desenvolvimento econômico e para a sustentabilidade de seu negócio (e conseqüentemente, da economia do país). Somando-se a isso o aperfeiçoamento da legislação ambiental e a crescente conscientização ecológica que os consumidores vem adquirindo, sem dúvida, haverá terreno fértil para a avaliação do que realmente pode ser considerado “lixo” e o que pode ser percebido como matéria-prima de um mundo melhor.  

* Diretora na Sustentabilitá Consultoria em Responsabilidade Social
isaura.morel@sustentabilita.com.br


O que é Responsabilidade Social?

Isaura Morél*

O termo Responsabilidade Social vem tornando-se cada vez mais comum, especialmente na mídia e no meio empresarial. Muitas organizações vêm apoiando-se nessa expressão para conquistar os consumidores e vender uma imagem confiável.
 Mas, na prática, você sabe o que significa Responsabilidade Social? Primeiro, responda para você mesmo algumas questões a seguir:
·         A sua empresa possui práticas sustentáveis?
·         Que ações são realizadas?
·         Quais são os princípios da empresa?
·         A empresa preza pela transparência em relação à prestação de contas?
·         Como seu negócio impacta o meio ambiente e o que é feito sobre o assunto?
·         A empresa investe em programas sociais?
Agora, vamos a uma breve passagem histórica pelo desenvolvimento do conceito de Responsabilidade Social no Brasil para entender a complexidade do significado desta expressão no atual mundo corporativo.
A noção inicial de responsabilidade social nas empresas era centrada, até fim do século passado, basicamente em atividades filantrópicas através de doações para instituições beneficentes. Normalmente, a realização de tais ações partia da vontade pessoal dos proprietários e, muitas vezes, era motivada por questões de cunho familiar ou religioso. Poderia ocorrer, por exemplo, de um ente querido ter sofrido com determinada doença e então o dono da empresa via uma oportunidade de fazer o bem àqueles que passavam por situação semelhante. Ou ainda, simplesmente decidia-se praticar a caridade ajudando os pobres, as crianças, os idosos ou outro grupo necessitado.
Sem tirar o mérito de tais ações, é preciso compreender que em um contexto geral, elas eram caracterizadas como pontuais, muitas vezes esporádicas, sem garantia de continuidade (como quando a empresa troca de dono, por exemplo) e sem controle sobre o real retorno social que proporcionavam. Na maior parte das vezes, com uma visão assistencialista, a filantropia tradicional não promovia o desenvolvimento pessoal e emancipação dos beneficiados.
Ao mesmo tempo, no cenário empresarial, é importante dar-se conta de que, até poucas décadas atrás, o que conferia competitividade às organizações eram o seu produto e o preço praticado. Por isso, sua atuação era quase que totalmente voltada para estes dois fatores.
A partir da segunda metade do século XX, o fator qualidade começa a ganhar importância gerencial e servir como orientador do negócio. Apenas no final do século (especialmente na década de 90) surgem outras variáveis que começam a atingir direta ou indiretamente o funcionamento das organizações. Podem ser citados, por exemplo, o recrudescimento da luta pelos direitos trabalhistas e humanos, a preocupação com a degradação ambiental e os direitos dos consumidores, entre outros.
A partir desse movimento, as empresas começaram também a ser cobradas pelo seu impacto na sociedade e, inclusive, no meio ambiente. Um marco importantíssimo para o entendimento dessas mudanças na sociedade e as necessidades para o futuro, foi o Relatório Brundtland. Ele foi elaborado pela Comissão Mundial sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento (ONU) em 1987, que desenvolveu o atual conceito de desenvolvimento sustentável: é aquele que satisfaz as necessidades presentes, sem comprometer a capacidade das gerações futuras de suprir suas próprias necessidades. Este conceito possui três dimensões: econômica, social e ambiental.
Essa noção de desenvolvimento sustentável, por sua vez, foi o balizador para a construção do conceito de responsabilidade social empresarial utilizado pelo Instituto ETHOS: “Responsabilidade social empresarial é a forma de gestão que se define pela relação ética e transparente da empresa com todos os públicos com os quais ela se relaciona e pelo estabelecimento de metas empresariais que impulsionem o desenvolvimento sustentável da sociedade, preservando recursos ambientais e culturais para as gerações futuras, respeitando a diversidade e promovendo a redução das desigualdades sociais” (www.ethos.org.br). Um dos objetivos da responsabilidade social, portanto, é contribuir para o desenvolvimento sustentável.
Cada vez mais, seja pelo impacto da globalização e comunicação instantânea, seja pelo fato de as organizações estarem sujeitas a críticas e investigações públicas, observa-se que o papel da responsabilidade social está fazendo empresas irem além do reconhecimento de suas obrigações legais. Além disso, elas estão cada vez mais cientes dos benefícios de um comportamento socialmente responsável.
O fácil acesso à informação, por outro lado, também está contribuindo para a formação de consumidores com maior consciência social e ambiental. Espera-se que logo essa mentalidade começará a influenciar fortemente os padrões de consumo, como já ocorre em alguns países europeus. A sociedade mundial está se perguntando quais são os limites do progresso: até que ponto a humanidade pode crescer e consumir sem afetar o destino do planeta e das gerações futuras?
Os desafios da empresa que investe em Responsabilidade Social são, além do compromisso com os direitos dos clientes e o bem-estar dos empregados, a garantia de processos produtivos que não degradem o meio ambiente. Muitas vezes isso implica em dar atenção também às comunidades nas quais suas unidades estão inseridas, participando da promoção da cidadania e do desenvolvimento dessas populações.
O dinheiro gasto em doações no passado, hoje tem de ser canalizado de forma planejada e monitorada, através de projetos sociais com escopo definido e metas alcançáveis. As doações se convertem agora no “Investimento Social Privado”, e, como todo investimento, tem de ter retorno positivo, caso contrário não tem razão para se sustentar.
O bom relacionamento e a ética são imprescindíveis nas relações com o mercado, com fornecedores e parceiros, além da transparência com a prestação de contas aos acionistas e conselheiros das organizações. Os investidores, especialmente os estrangeiros, prezam que todos esses fatores sejam bem observados nas práticas empresariais.
Como pode ser percebido, para se desenvolver a Responsabilidade Social precisa-se de uma política complexa e abrangente. Por isso, recomenda-se que ela seja parte integrante da estratégia organizacional e esteja refletida em todas as ações, nos vários níveis de atuação da empresa, desde o alto escalão até a base operacional.
A ISO – Organização Internacional de Normalização – divulgou em 2010 a ISO 26000, uma norma internacional (porém, não certificável) que traz orientações sobre os princípios referentes à Responsabilidade Social, para nortear as empresas que desejam implementá-la. Segundo o relatório, são sete os princípios da responsabilidade social:
·         Responsabilização com prestação de contas (accountability);
·         Transparência;
·         Comportamento ético;
·         Respeito pelos interesses das partes interessadas;
·         Respeito pelo estado de direito (supremacia da lei);
·         Respeito pelas normas internacionais de comportamento;
·         Respeito pelos direitos humanos.
Apesar de o escopo da Responsabilidade Social abranger diversos fatores, o retorno positivo para a empresa que investe nesse conceito é bastante alto e muitas vezes com valor imensurável. Ainda usando como referência a ISO 26000, vários benefícios podem ser listados:
·         Melhoria das práticas de gestão e risco da organização;
·         Melhoria na imagem e reputação da organização, refletindo em maior confiança e simpatia por parte do público;
·         Ganhos com inovação em gestão e processos;
·         Reflexo na competitividade da organização;
·         Facilidade de acesso a financiamentos internacionais;
·         Melhoria no relacionamento com stakeholders da empresa (clientes, fornecedores, acionistas, financiadores, governo e mídia, por exemplo);
·         Aumento da fidelidade, motivação e retenção de funcionários;
·         Melhoria na saúde e segurança dos trabalhadores;
·         Economia resultante de aumento da eficiência nos processos e no uso de recursos, com conseqüente redução do consumo de energia, água e matéria-prima;
·         Maior confiança do mercado pela prática da concorrência leal, da transparência em operações e ausência de corrupção;  
·         Clientes mais satisfeitos, pois tem suas necessidades atendidas.
Agora, ao final desta breve jornada, reveja as questões iniciais referentes à sua empresa. E então, quanto do caminho falta a percorrer para contemplar as várias exigências que contemplam a aplicação da Responsabilidade Social em uma empresa?
Como você pode ver, o trabalho é árduo, mas as recompensas são dignas do esforço. O mais importante para os empresários terem em mente é que, por enquanto, muitas das recomendações expostas neste texto são fatores de diferenciação no mercado. Entretanto, em um futuro próximo, elas se transformarão em exigências, e aquelas empresas que já estiverem preparadas, estarão em grande vantagem.

* Diretora na Sustentabilitá Consultoria em Responsabilidade Social
isaura.morel@sustentabilita.com.br


sábado, 19 de março de 2011

Mudança na matriz energética requer transformações nos padrões atuais de produção e consumo

Por Redação IHU
O sistema energético com base em hidrelétricas é insustentável e prejudicial às populações ribeirinhas, afirma o professor Heitor Scalambrini Costa, da Universidade Federal do Pernambuco (UFPE), em entrevista por e-mail, à IHU On-Line. De acordo com o professor, as hidrelétricas previstas no rio Madeira e Xingu são desnecessárias para atender às necessidades elétricas do país. Em sua percepção, elas foram projetadas com o objetivo de “beneficiar as indústrias do setor eletrointensivo, como as empresas produtoras de ferro, celulose e alumínio primário, que são grandes consumidoras (e desperdiçadoras) de energia”.

Costa enfatiza que, para construir um modelo energético sustentável, é necessário mudar os modos de produção e consumo da sociedade. Para ele, mudanças na matriz energética, que conduzam ao bem- estar das pessoas, “devem levar em conta uma profunda transformação nos padrões atuais de produção/consumo, no estilo de vida” da população. Nesse sentido, ele propõe mudanças no conceito de crescimento econômico, e ressalta que as fontes de energia renováveis, além de ajudarem a combater os impactos ambientais, ajudariam a diminuir a pobreza e os problemas socioeconômicos do País.

Costa é graduado em Física pelo Instituto de Física Gleb Wattaghin da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), mestre em Energia Solar, pelo Instituto de Energia Nuclear da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e doutor em Energia, pela Commissariat à I’Energie Atomique-CEA, Centre d’Estudes de Cadarache et Laboratorie de Photoelectricité Faculte Saint- Jerôme/Aix-Marseille III, França. Atualmente, coordena os projetos da ONG Centro de Estudos e Projetos Naper Solar e o Núcleo de Apoio a Projetos de Energias Renováveis - NAPER da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE).

IHU On-Line - Como o senhor avalia a matriz energética nacional?

Heitor Scalambrini Costa - 
O Brasil tem 45% da sua matriz energética baseada em fontes renováveis, particularmente para a geração de energia elétrica e potencialmente nos combustíveis líquidos para transporte, a partir de agrocombustíveis. Por outro lado, há uma absurda e brutal emissão de carbono no uso da terra. Basicamente, em função das transformações no uso da terra na região amazônica, onde o desmatamento e queimadas são usados para abrir campos agriculturáveis e pastagens.

Sem dúvida, nos encaminhamos para o fim da era do petróleo, e nos defrontamos com o grande desafio, que é combater as causas das mudanças climáticas, principalmente substituindo os derivados do petróleo por combustíveis renováveis. Estamos em um período de transição e de incorporação de novas fontes energéticas na vida das pessoas e das nações. Discutir, portanto, uma mudança na matriz energética que realmente busque preservar a vida e o bem-estar dos indivíduos no planeta precisa levar em conta uma profunda transformação nos padrões atuais de produção/consumo, no estilo de vida, no conceito de desenvolvimento vigente e na própria organização de nossa sociedade. Entendo que, para concretizar uma estratégia em bases sustentáveis, seria necessário investir na diversidade e na complementaridade das fontes energéticas, portanto nas alternativas renováveis como a energia eólica, solar térmica, fotovoltaica, marés, ondas, biomassa, pequenas quedas de água (PCH´s ). Portanto, discutir a matriz energética implica, em primeiro lugar, refletir a serviço de quem estará esta nova matriz e levar em conta quem se beneficiará ou qual propósito servirá, ou seja: energia para quê  e para quem?

IHU On-Line - Investindo na construção de novas hidrelétricas, o Brasil estará produzindo energia para quem?

Heitor Scalambrini Costa - 
O Plano Decenal de Expansão de Energia Elétrica (PDEE) 2006-2015, divulgado pelo Governo Federal, tem pouco apreço pela busca da eficiência energética e do uso racional de energia. Foi elaborado para beneficiar as indústrias do setor eletro-intensivo, como as empresas produtoras de ferro, pasta de celulose e alumínio primário, que são grandes consumidoras (e desperdiçadoras) de energia, concentrando em três megaprojetos (as usinas hidrelétricas de Jirau e Santo Antonio - no Rio Madeira, em Rondônia, a de Belo Monte, no rio Xingu, no Pará e a usina nuclear de Angra III), que causarão grandes impactos sociais e ambientais e têm uma chance razoável de dar errado. Empreendimentos estes rechaçados pelos movimentos sociais e pela sociedade brasileira há anos, devido aos impactos ambientais que provocarão.

O governo não deu muita importância à adoção de novas matrizes de energia renovável no País. As energias renováveis são relegadas no PDEE, enquanto deveriam ser encaradas como a grande solução para a questão energética. O Brasil já é capaz de produzir em quantidade energia solar térmica, solar fotovoltaica, eólica ou biomassa, entre outras, e só não o faz por falta de vontade política do governo. O governo segue desconsiderando essa tendência internacional apesar do País possuir potencial para suprir totalmente a demanda nacional atual e também para fornecer eletricidade a locais remotos que não a possuem ou que utilizam outras fontes, como a geração a diesel ou a gás.

Ao desprezar as fontes renováveis, o País acaba deixando de economizar energia. Essas fontes poderiam também resolver problemas atuais do setor, como o pico de consumo causado por chuveiros elétricos e que pode ser reduzido utilizando a energia solar térmica, beneficiando a todos, inclusive às concessionárias. Assim a demanda poderia ser mais balanceada e o fator de carga elevado.

IHU On-Line - Num momento em que tanto se discute a questão ambiental e o aquecimento global, por que viabilizar grandiosos projetos de usinas hidrelétricas no Rio Madeira e no Xingu, por exemplo, se já está comprovado que grandes hidrelétricas geram impactos ambientais?

Heitor Scalambrini Costa -
 Os planos e estratégias de expansão da oferta de energia elétrica feito pela Empresa de Pesquisa Energética – EPE pressupõe a continuidade de construção de grandes barragens e a prevalência da opção hidrelétrica para assegurar 4/5 da oferta, deixando a termeletricidade (gás natural, carvão mineral, derivados de petróleo e nuclear) os 20% restantes.
Para a elaboração deste cenário, é considerada a construção de grandes hidrelétricas na região Norte do País, a conclusão de Angra III e a construção de outras novas nucleoelétricas, enquanto que a inserção da energia solar e eólica na matriz energética nacional se mantém de forma incipiente. A energia elétrica obtida a partir do potencial hidráulico de um rio, através da construção de uma barragem, com a conseqüente formação de um reservatório, tem se revelado no cenário nacional e internacional insustentável. São identificados problemas físico-químico-biológicos decorrentes da implantação e operação de uma usina hidrelétrica e de sua interação com as características ambientais do local de construção (por exemplo, alteração do regime hidrológico, assoreamento, emissões de gases estufa a partir da decomposição orgânica no reservatório, entre outros), além dos aspectos sociais, particularmente com relação às populações ribeirinhas atingidas pelas obras (formação do reservatório), invariavelmente desconsideradas, diante dos deslocamentos destas populações.

Hidrelétricas desnecessárias

As hidrelétricas previstas no rio Madeira e Xingu são desnecessárias para atender as necessidades elétricas do País. Foram projetadas para beneficiar as indústrias do setor eletro-intensivo, como as empresas produtoras de ferro, celulose e alumínio primário, que são grandes consumidoras (e desperdiçadoras) de energia, além de obviamente as grandes empreiteiras (fonte de “eterna” corrupção).

Existem outras alternativas de oferta de energia elétrica sem a necessidade destas obras tão renegadas pela sociedade civil brasileira. Alternativas como a repotenciação (modernização) das hidrelétricas já existentes, melhorar a eficiência e conservação de energia, utilizar o aquecimento de água com energia solar para substituição dos chuveiros elétricos, dentre outras medidas, seriam suficientes para ofertar a energia elétrica necessária ao País, sem a necessidade de realizar estas grandes obras. Portanto, o Brasil não tem necessidade de construir as usinas hidrelétricas no Rio Madeira e no Xingu para atingir as metas do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). Estas decisões, referentes à construção de usinas de geração de eletricidade, têm sido expostas diante de um suposto aumento dos riscos de déficit de energia, alimentadas pela síndrome do apagão. Parece-me mais inteligente buscar formas de aumentar a eficiência e a conservação de energia e de encontrar, na diversidade das fontes renováveis, as múltiplas saídas para os problemas energéticos do país.

IHU On-Line - O senhor afirma que o tratamento dado à questão energética no PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) foi decepcionante. Por quê? De que maneira o PAC poderia contribuir para o efetivo desenvolvimento do País, no que se refere à energia elétrica?

Heitor Scalambrini Costa - 
Pode se afirmar que o tratamento dado à questão energética no PAC foi decepcionante e frustrante para aqueles que almejam um desenvolvimento em nosso país mais igualitário, menos excludente e sustentável ambientalmente. Estamos na contramão da história, pois os mais recentes estudos do Painel Intergovernamental sobre Mudança Climática  da Organização das Nações Unidas têm apontado como o pior vilão das mudanças climáticas o uso dos combustíveis fósseis (petróleo, gás natural e carvão mineral) causadores do efeito estufa. E, lamentavelmente, são estes combustíveis que receberam os maiores recursos destinados pelo PAC.

Com uma previsão de aporte de recursos da ordem de R$ 274,8 bilhões até 2010, a área de infra-estrutura energética teve a maior fatia do bolo de investimentos. O plano mostra o viés conservador do governo por investir em combustíveis fósseis (maiores causadores do aquecimento global). A rubrica petróleo e gás levou R$ 179 bilhões, enquanto para o desenvolvimento de fontes renováveis de energia serão destinadas “migalhas” da ordem de R$ 17,4 bilhões. O setor elétrico, por sua vez, receberá R$ 65,9 bilhões para investimento em geração de energia e R$ 12,5 bilhões para investimentos em transmissão e distribuição.

Apesar do setor elétrico receber menos recursos que o setor petróleo e gás, o PAC atendeu às reivindicações dos empresários do setor elétrico (leia-se as grandes empresas transnacionais), beneficiando-as com mudanças nas regras de empréstimos concedidos pelo BNDES, que aumentaram as facilidades para os empresários do setor. Os prazos de pagamento foram estendidos de 14 para 20 anos e os prazos de carência aumentados de seis meses para um ano. Além disso, o financiamento pode chegar a até 80% do valor total do empreendimento. Também há outras facilidades, como a redução do valor das garantias dos projetos de construção de usinas hidrelétricas e a diminuição das exigências de previsão de fluxo de caixa para financiamentos no setor de energia. O governo, com essas “facilidades”, espera viabilizar projetos de usinas hidrelétricas de Jirau (3.300 MW) e Santo Antonio (3.150 MW), no Rio Madeira (barragem de 217 km), em Rondônia e de Belo Monte (5.500 MW), e no Rio Xingu, no Pará (barragem de 440 km).

Antes que o Brasil se renda ao apelo da energia nuclear (ambientalmente incorreta por causa dos riscos de acidentes e da produção de resíduos radioativos), ou continue lutando contra a sociedade civil para aprovar a construção de novas hidrelétricas e termelétricas, parece mais inteligente buscar formas de aumentar a eficiência e a conservação de energia, e de encontrar, na diversidade das fontes renováveis, as múltiplas saídas para os problemas energéticos do país.

IHU On-Line - Discutir as mudanças na matriz energética brasileira implica em discutir também mudanças no sistema de produção e consumo? Como o senhor relaciona esses aspectos?

Heitor Scalambrini Costa 
- Um modelo sustentável só será possível a partir da mudança dos modos de produção e de consumo da sociedade. É a razão capitalista com base no consumismo, no militarismo, e na da lógica de acumulação do capital que está levando o nosso planeta - e os seres vivos que o habitam - a uma situação catastrófica do ponto de vista do meio ambiente, das condições de sobrevivência da vida humana e da vida em geral.

O paradigma do crescimento econômico deve e precisa ser profundamente alterado. Precisamos nos adequar à velocidade dos acontecimentos, pois o caos climático e suas conseqüências se transformarão, em poucos anos, num fator de contestação global do capitalismo como jamais houve na história. Para estar à altura dos acontecimentos, uma boa idéia é começar a deixar de lado um conceito de crescimento econômico que nos foi imposto pelo próprio capitalismo.

A questão central é como vamos mudar o sistema de produção. Na medida em que se muda a produção, se mudará o consumo. A produção comanda e obriga o consumo. Se há preocupação em mudar a questão ambiental, é preciso se pensar em mudar o sistema de produção, o modelo atual da civilização ocidental industrializada. Temos que combater aqueles que parecem obedecer a uma mentalidade desenvolvimentista ainda calcada na visão do “mais e maior” e que ignora as dimensões socioambientais do “crescimento infinito”.

O fato é que jamais haverá, sob o signo do capitalismo, a “salvação ambiental”. Por isso, a luta socioambiental é hoje o instrumento mais importante para a superação do capitalismo antes que o capitalismo acabe com as condições para que a humanidade exista nesse Planeta.

IHU On-Line - Como o senhor percebe a criação das Pequenas Centrais Hidrelétricas enquanto alternativa para o funcionamento efetivo da energia elétrica no País?

Heitor Scalambrini Costa -
 O Brasil tem características geográficas e hidrológicas que favorecem o emprego da energia hidroelétrica. No País, existe um importante potencial, identificado através das PCH´s, estimado em 9.800 MW, considerando usinas com até 30 MW de potência instalada e com o reservatório de até 3 km2.

Uma PCH não é uma central em tamanho reduzido, e sim uma concepção diferente e mais simples de uma central hidrelétrica. A agressão à natureza deste tipo de empreendimento é muito menor que o causado pelas grandes hidroelétricas. Sem dúvida, as PCH´s se constituem em uma fonte de energia elétrica que devemos apoiar, para a construção de uma matriz energética mais renovável e diversificada.

IHU On-Line - Como o senhor relaciona a questão energética e o desenvolvimento sustentável?

Heitor Scalambrini Costa 
- Muitos acreditam e manifestam a crença de que o mercado pode ser o responsável pela implantação da filosofia do desenvolvimento sustentável. Acreditam que com o decorrer do tempo, e com o surgimento de novas tecnologias, os problemas ambientais podem ser sanados e superados, resultando uma melhoria no bem-estar social ou mesmo a diminuição das desigualdades sociais.

O fato é que o desenvolvimento sustentável não pode ser tratado apenas como uma questão restrita a políticas ambientais e tecnológicas. Os problemas da desigualdade social e do modo de produção atual são os obstáculos para se alcançar uma forma de desenvolvimento capaz de preservar o meio ambiente e, ainda assim, proporcionar melhores condições de vida as pessoas excluídas do sistema de trabalho. Um modelo sustentável só será possível a partir da mudança dos modos de produção e de consumo da sociedade.

Como podemos observar em nosso país, a temática da oferta da energia traz questões de ordem política decorrente da forma como as diferentes opções energéticas são impostas à sociedade. O tratamento da questão energética continua a revelar a prevalência da visão liberal-mercantilista, que concebe o setor energético como um campo de relações de troca de mercadorias, com vistas à ampliação da acumulação de capital.

IHU On-Line – Qual é o papel das fontes renováveis de energia na matriz energética brasileira?

Heitor Scalambrini Costa -
 As fontes renováveis de energia, como biomassa, PCHs, eólica e energia solar, incluindo a fotovoltaica, têm e terão um papel fundamental a cumprir, pois aumentam a diversidade da oferta de energia; asseguram a sustentabilidade da geração de energia a longo prazo; reduzem as emissões atmosféricas de poluentes; criam novas oportunidades de empregos nas regiões rurais, oferecendo oportunidades para fabricação local de tecnologia de energia; e fortalecem a garantia de fornecimento porque, diferentemente do setor dependente de combustíveis fósseis, não requerem importação.

Além de solucionar grandes problemas ambientais, como o efeito estufa, as novas renováveis ajudam a combater a pobreza, e também podem aumentar o acesso à água potável proveniente de poços. Água limpa e alimentação cozida reduzem a fome (95% dos alimentos precisam ser cozidos antes de serem ingeridos). Pode haver a redução de tempo que mulheres e crianças gastam nas atividades básicas de sobrevivência (buscando toras, coletando água, cozinhando). Além disso, energia em casa facilita o acesso à educação, aumenta a segurança e permite o uso de mídia e comunicação na escola; diminuir o desmatamento.

Os estudos realizados pela WWF mostram que, num cenário elétrico sustentável, as fontes como solar, eólica, biomassa e PCHs podem fornecer até 20% da geração total de eletricidade, empregando oito milhões de pessoas e reduzindo as emissões dos gases de efeito estufa. Basta para isso que se retome a fase 2 do PROINFA (Programa de Incentivo às Fontes Alternativas de Energia Elétrica), que foi abandonado pelo governo.

IHU On-Line - Como o senhor se posiciona em relação ao debate sobre energia no País? E a questão dos agrocombustíveis?

Heitor Scalambrini Costa -
 Em toda a discussão atual sobre energia no Brasil, se fala sempre na ameaça dos apagões frente ao crescimento econômico anunciado. Nem o governo, nem as autoridades do setor energético, nem os responsáveis pela administração do setor elétrico brasileiro, nem os distribuidores falam uma só palavra sobre economia de energia, racionalização do gasto de energia, eficiência, manutenção, modernização.

Só a obra nova parece interessar e ser capaz de gerar energia no Brasil. Cada vez é mais constante ouvir declarações governamentais e de “técnicos” de empresas estatais e privadas, demonstrando desprezo pelas energias renováveis e grande dose de ignorância sobre o debate energético contemporâneo. Diferentemente destas declarações preconceituosas sobre as energias alternativas como solução para o problema energético do Brasil, elas podem, sim, atender às necessidades e demandas futuras, diversificando e complementando a matriz elétrica. Ao estabilizar em torno de 70% de energia hídrica, os outros 30% podem ser perfeitamente adicionados por fontes renováveis, especialmente biomassa, PCH´s, eólica e solar – que nem foi incluída no PROINFA.

O PROINFA foi criado para estimular as fontes alternativas de energia, e que em cinco anos não realizou nem 40% das suas metas originais, relativamente banais, diga-se de passagem, de conseguir gerar 3.300 MW de eletricidade a partir de  biomassa, eólica e hídrica com base em PCH´s.

Biocombustíveis


Vejamos o que está ocorrendo com relação à produção do etanol e do biodiesel. Com base no modelo do agronegócio, que destina grandes extensões de terra para a monocultura, procura-se transformar o Brasil em grande exportador de combustíveis líquidos com o apoio e ganância de grandes grupos econômicos e fundos de investimentos. Este modelo causa impactos negativos em comunidades camponesas, ribeirinhas, indígenas e quilombolas, que têm seus territórios ameaçados pela expansão do capital.

O que se verifica hoje é a compra de terras por estrangeiros (japoneses, chineses, americanos, franceses, holandeses e ingleses), que estão aportando no país, comprando usinas e formando um estoque de terras que rende uma valorização acelerada, na linha da especulação típica das zonas urbanas. O Brasil entra com a terra, a água e o sol, e mão-de-obra barata. Já eles colhem, exportam e vendem o produto, aplicando os lucros lá fora. Ficam com o verde da cana e dos dólares e, nós, com o amarelo da fome. Sem abandonar estas fontes de riqueza para o País, o modelo agrícola a ser adotado deveria estar baseado na agroecologia, no zoneamento agrícola e na diversificação da produção. Ele deve ser orientado por um sentido de desenvolvimento, que fortaleça a agricultura familiar e o desenvolvimento regional, e não pela lógica de querer, acima de tudo, transformar o Brasil em um grande exportador de combustíveis. Tem se afirmado com insistência, ao longo dos anos, que não existe solução para os problemas urbanos do Brasil, sem melhorar a qualidade de vida no campo. Assim, a questão crucial não deve ser plantar isto ou aquilo, mas sim “plantar para quê e para quem”? Essas questões, por sua vez, devem estar subordinadas a uma pergunta mais geral: qual padrão de desenvolvimento e de consumo a sociedade brasileira deseja? A produção de agro-combustíveis como etanol e biodiesel só faz sentido se melhorar a qualidade de vida do povo.

IHU On-Line – Qual é o interesse do Brasil em utilizar energia nuclear como fonte energética? Essa opção pode ser considerada um regresso?

Heitor Scalambrini Costa -
 O Brasil não tem necessidade de construir mais usinas nucleares para atingir a meta do PAC de aumentar a oferta de energia elétrica. Fonte de energia elétrica ambientalmente incorreta por causa dos riscos de acidentes e pela produção de resíduos radioativos, o uso da nucleoeletricidade pelo Brasil é estrategicamente incorreto, e
deveria ser definitivamente descartada.

Os defensores da tecnologia nuclear insistem que a energia nuclear não emite dióxido de carbono (CO2) e, por isso, é uma boa opção para enfrentar o aquecimento global. Os lobistas desta tecnologia não incorporam em seus cálculos o processo completo da energia nuclear, porque  consideramos a mineração do urânio (combustível nuclear), o transporte, o enriquecimento do urânio, a posterior desmontagem da central e o processamento e confinamento dos resíduos radioativos. Esta opção produz entre 30 e 60 gramas de CO2 por quilowatt-hora gerado. Estes dados são da Agência Internacional de Energia Atômica, e é importante não omiti-los no debate sobre as soluções ao desafio energético do País. Ainda mais, porque o cálculo que faz hoje o Oxford Research Group chega até 113 gramas de CO2 por quilowatt-hora. Isso é aproximadamente a emissão de uma termoelétrica a gás. Portanto, aqui também há um mito, um afã de descartar, cortar e mostrar uma parcialidade da realidade desta fonte de energia. Também, o uso de água na tecnologia nuclear é alto e implica dejetos sólidos.


(Envolverde/IHU On-Line)