terça-feira, 13 de dezembro de 2011

Encontro Técnico discute Fundos Patrimoniais


Executivos de fundações familiares, empresariais e fundos independentes, além de professores e pesquisadores interessados em discutir a sustentabilidade das organizações sem fins lucrativos, participaram do seminário Como criar e gerir Fundos Patrimoniais, organizado pelo Instituto para o Desenvolvimento do Investimento Social com o patrocínio da Fundação Ford e apoio da FGV, Associação Brasileira de Captadores de Recursos (ABCR) e do Fundo Vale. O encontro foi realizado em 28 de novembro, na Escola de Administração de Empresas da Fundação Getúlio Vargas, em São Paulo.

O diretor presidente do IDIS, m Marcos Kisil, abriu o encontro falando sobre a importância desse tipo de fundo. “A cultura de criar um fundo patrimonial, ou endowment, não permeia o histórico das organizações do Brasil. Mas essa é uma maneira de perpetuar a riqueza que foi acumulada em um determinado momento e permitir que se projete o futuro sem o risco de abalos pontuais. A crise global econômico e financeira pode ser tomada como exemplo.

Nesse contexto, o fundo é um instrumento que permite a continuidade dos trabalhos das organizações independentemente de crise. Em outras palavras, o fundo funciona como um mecanismo de proteção que permite a continuidade de seu trabalho.”

Já o secretário-geral do Grupo de Institutos Fundações e Empresas (GIFE), Fernando Rossetti, lembrou que a melhora da economia brasileira significou, paradoxalmente, a diminuição do apoio de organizações internacionais financiadoras em nosso país. “O Brasil vive um momento econômico favorável e os recursos internacionais têm deixado o País. Daí a importância de se criar um fundo patrimonial como forma de garantir a sustentabilidade econômica das organizações”, afirmou.
No encontro, foram apresentados os casos de gestão de fundos de três organizações da sociedade civil: o Fundo Vale para o Desenvolvimento Sustentável, o Fundo Brasil de Direitos Humanos e o Fundo Zona Leste Sustentável.

Casos apresentados - A diretora de operações do Fundo Vale, Mirela Sandrini, explicou que a organização ainda não trabalha com endowment e sim com um operacional, aprovado ano a ano. “Por enquanto, fazemos a gestão dos projetos com os recursos repassados pela Vale. A capacidade de gestão, neste caso, é o melhor atrativo para captarmos mais recursos e investirmos ainda mais nos projetos mantido pelo Fundo Vale.”

A coordenadora executiva do Fundo Brasil de Direitos Humanos, Ana Valéria Araújo, relatou como é feita a gestão do endowment da organização. “Iniciamos o fundo com o recebimento de uma doação de US$ 3 milhões de dólares, na época cerca de R$ 6 milhões de reais.
Usamos apenas parte dos rendimentos, reinvestindo a parcela dos rendimentos não utilizados - como recomendado pelo Conselho Curador e uma assessoria financeira profissional que contratamos”, disse.
Segundo ela, o desafio da organização é captar novos recursos para fazer crescer o fundo patrimonial. “É importante criar estratégias de obtenção de recursos públicos e de entidades privadas, dentro e fora do Brasil, para viablizar mais projetos, manter os custos operacionais e aumentar o valor do nosso endowment”, afirmou Ana. Após cinco anos, o Fundo Patrimonial cresceu e atingiu a marca de R$ 8,8 milhões de reais, garantindo, com seus rendimentos, cerca de um terço das despesas operacionais da organização.

Já o Fundo Zona Leste Sustentável, iniciativa que capta recursos junto a empresas e indíviduos, trabalha com dois comitês para garantir a gestão de seu endowment. O consultor Gabriel Ligabue  explicou como: “O Comitê Financeiro responde pela gestão do fundo, de forma a garantir a sua perpetuidade. O Comitê Programático define as regras e coordena o processos, como a seleção das iniciativas,  promover o programa de captação e instituir fundos complementares.”
 
Mobilização de Recursos - O coordenador do convênio The Resource Alliance e IDIS, Rodrigo Alvarez ,coordenou a mesa de trabalho Mobilização de Recursos para Fundos Patrimoniais no Brasil, ao lado do consultor e presidente da Associação Brasileira de Captadores de Recursos (ABCR), Marcelo Estraviz.

Alvarez destacou os três fatores que fazem a diferença para uma organização captar recursos privados. “Em primeiro lugar, vem a sua credibilidade. Depois, a qualidade técnica do projeto apresentado para captar apoio. Finalmente, a sinergia entre o projeto e o foco de atuação da organização com a linha de investimento social privado da empresa, ou organização filantrópica financiadora”. Em seguida traçou um comparativo com a realidade de mobilização de recursos para Fundos Patrimoniais na Europa e EUA, onde indivíduos são responsáveis pela grande maioria das doações para esses fundos, deixando heranças e legados que garantem a perpetuidade das causas. “Ainda temos muito a avançar em termos legais e culturais”, afirma Alvarez.

Já Marcelo Estraviz ressaltou a importância de as organizações investirem em canais de diálogo com doadores individuais. “No Brasil, hoje é a classe média emergente, a classe C, que mais doa. A internet e a captação de recursos por telefone têm se mostrado eficazes como forma de angariar o apoio desse perfil de doador.” 

Gestão de Fundos Patrimoniais - Paula Fabiani, da Fundação Maria Cecília Souto Vidigal, coordenou a mesa de trabalho Gestão de Fundos Patrimoniais no Brasil. “Uma das questões importantes na gestão é respeitar o spending rate, o percentual do fundo que pode ser utilizado para apoiar despesas da organização. A média é de 5% do total do endowment”, disse Paula.

Uma das ações resultantes do encontro técnico é a produção de um livro sobre criação e gestão de fundos patrimoniais, pelo IDIS e a FGV, cujo lançamento está previsto para o primeiro semestre de 2012.

As informações são do IDIS.

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