segunda-feira, 21 de março de 2011

Logística Reversa: revertendo o papel do lixo na sociedade

Isaura Morél*


As discussões sobre o tema Sustentabilidade são muito extensas e estão em voga no meio empresarial, acadêmico e político. Levando-se em consideração o “tripé” no qual é ancorado esse conceito (perspectivas financeira, social e ambiental), pode-se discorrer sobre uma série de ações que estão sendo colocadas em prática para garantir o desenvolvimento econômico e sustentável da nossa sociedade, entre as quais podemos citar a Logística Reversa.
A Logística Reversa é um importante instrumento, previsto na Política Nacional de Resíduos Sólidos, que consiste em “um conjunto de ações, procedimentos e meios destinados a viabilizar a coleta e a restituição dos resíduos sólidos ao setor empresarial, para reaproveitamento, em seu ciclo ou em outros ciclos produtivos, ou outra destinação final ambientalmente adequada[1]. O objetivo dessa área da logística está intimamente relacionado a outro conceito que é o de “ciclo de vida” do produto, segundo o qual a “vida” de um produto não acaba na venda para o consumidor. Quando o produto torna-se obsoleto ou danificado para uso, ele deve retornar ao seu ponto de origem, através de descarte adequado e reaproveitamento de matérias primas.
Uma das conseqüências positivas desse processo é a diminuição do volume de lixo liberado no meio ambiente. Segundo dados do IBGE, da Pesquisa Nacional de Saneamento Básico de 2008[2], a quantidade de resíduos sólidos coletados foi de 259.547 toneladas por dia, em todo o país! E ainda conforme esta pesquisa, 50,8% dos municípios brasileiros destinam seus lixos a vazadouros a céu aberto, ou como são popularmente chamados, “lixões”.
 Nesse sentido, as empresas têm um importante papel social a cumprir, e podem contribuir diminuindo a quantidade e selecionando melhor o material das embalagens de seus produtos (não-tóxicos, recicláveis), e também, aplicando a Logística Reversa como forma de garantir o reaproveitamento de produtos ou materiais recicláveis. Mas esse sistema, é claro, exige um investimento para implantação do processo de produção reverso (recuperação dos materiais), que pode ser feito dentro da própria empresa, ou ser terceirizado. Além disso, a gestão do ciclo de vida dos produtos depende dos canais de distribuição reversa, que precisam funcionar de forma eficaz. E para isso acontecer, não basta somente o engajamento das empresas, mas também de outros agentes envolvidos no processo, como por exemplo, os municípios, que são os responsáveis pela coleta de lixo, além de uma rede de sistemas de reciclagem. O processo é complexo e necessita de parcerias, pois visa reunir materiais distribuídos geograficamente.
Em contrapartida, pode ser assinalada outra conseqüência positiva no uso do sistema de logística reversa: o retorno financeiro. Esse fato já pode ser comprovado em alguns exemplos de sucesso no Brasil, como é o caso das indústrias de bebidas, com a reciclagem de garrafas PET e latinhas de alumínio. Para se ter uma idéia da economia, conforme a Associação Brasileira do Alumínio, para reciclar 1 (uma) tonelada de latas são gastos apenas 5% da energia necessária para produzir a mesma quantidade de latas feitas de alumínio virgem.
A tendência, ao que tudo indica, é que as organizações encontrem na Logística Reversa uma ferramenta para seu próprio desenvolvimento econômico e para a sustentabilidade de seu negócio (e conseqüentemente, da economia do país). Somando-se a isso o aperfeiçoamento da legislação ambiental e a crescente conscientização ecológica que os consumidores vem adquirindo, sem dúvida, haverá terreno fértil para a avaliação do que realmente pode ser considerado “lixo” e o que pode ser percebido como matéria-prima de um mundo melhor.  

* Diretora na Sustentabilitá Consultoria em Responsabilidade Social
isaura.morel@sustentabilita.com.br


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