segunda-feira, 21 de março de 2011

O que é Responsabilidade Social?

Isaura Morél*

O termo Responsabilidade Social vem tornando-se cada vez mais comum, especialmente na mídia e no meio empresarial. Muitas organizações vêm apoiando-se nessa expressão para conquistar os consumidores e vender uma imagem confiável.
 Mas, na prática, você sabe o que significa Responsabilidade Social? Primeiro, responda para você mesmo algumas questões a seguir:
·         A sua empresa possui práticas sustentáveis?
·         Que ações são realizadas?
·         Quais são os princípios da empresa?
·         A empresa preza pela transparência em relação à prestação de contas?
·         Como seu negócio impacta o meio ambiente e o que é feito sobre o assunto?
·         A empresa investe em programas sociais?
Agora, vamos a uma breve passagem histórica pelo desenvolvimento do conceito de Responsabilidade Social no Brasil para entender a complexidade do significado desta expressão no atual mundo corporativo.
A noção inicial de responsabilidade social nas empresas era centrada, até fim do século passado, basicamente em atividades filantrópicas através de doações para instituições beneficentes. Normalmente, a realização de tais ações partia da vontade pessoal dos proprietários e, muitas vezes, era motivada por questões de cunho familiar ou religioso. Poderia ocorrer, por exemplo, de um ente querido ter sofrido com determinada doença e então o dono da empresa via uma oportunidade de fazer o bem àqueles que passavam por situação semelhante. Ou ainda, simplesmente decidia-se praticar a caridade ajudando os pobres, as crianças, os idosos ou outro grupo necessitado.
Sem tirar o mérito de tais ações, é preciso compreender que em um contexto geral, elas eram caracterizadas como pontuais, muitas vezes esporádicas, sem garantia de continuidade (como quando a empresa troca de dono, por exemplo) e sem controle sobre o real retorno social que proporcionavam. Na maior parte das vezes, com uma visão assistencialista, a filantropia tradicional não promovia o desenvolvimento pessoal e emancipação dos beneficiados.
Ao mesmo tempo, no cenário empresarial, é importante dar-se conta de que, até poucas décadas atrás, o que conferia competitividade às organizações eram o seu produto e o preço praticado. Por isso, sua atuação era quase que totalmente voltada para estes dois fatores.
A partir da segunda metade do século XX, o fator qualidade começa a ganhar importância gerencial e servir como orientador do negócio. Apenas no final do século (especialmente na década de 90) surgem outras variáveis que começam a atingir direta ou indiretamente o funcionamento das organizações. Podem ser citados, por exemplo, o recrudescimento da luta pelos direitos trabalhistas e humanos, a preocupação com a degradação ambiental e os direitos dos consumidores, entre outros.
A partir desse movimento, as empresas começaram também a ser cobradas pelo seu impacto na sociedade e, inclusive, no meio ambiente. Um marco importantíssimo para o entendimento dessas mudanças na sociedade e as necessidades para o futuro, foi o Relatório Brundtland. Ele foi elaborado pela Comissão Mundial sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento (ONU) em 1987, que desenvolveu o atual conceito de desenvolvimento sustentável: é aquele que satisfaz as necessidades presentes, sem comprometer a capacidade das gerações futuras de suprir suas próprias necessidades. Este conceito possui três dimensões: econômica, social e ambiental.
Essa noção de desenvolvimento sustentável, por sua vez, foi o balizador para a construção do conceito de responsabilidade social empresarial utilizado pelo Instituto ETHOS: “Responsabilidade social empresarial é a forma de gestão que se define pela relação ética e transparente da empresa com todos os públicos com os quais ela se relaciona e pelo estabelecimento de metas empresariais que impulsionem o desenvolvimento sustentável da sociedade, preservando recursos ambientais e culturais para as gerações futuras, respeitando a diversidade e promovendo a redução das desigualdades sociais” (www.ethos.org.br). Um dos objetivos da responsabilidade social, portanto, é contribuir para o desenvolvimento sustentável.
Cada vez mais, seja pelo impacto da globalização e comunicação instantânea, seja pelo fato de as organizações estarem sujeitas a críticas e investigações públicas, observa-se que o papel da responsabilidade social está fazendo empresas irem além do reconhecimento de suas obrigações legais. Além disso, elas estão cada vez mais cientes dos benefícios de um comportamento socialmente responsável.
O fácil acesso à informação, por outro lado, também está contribuindo para a formação de consumidores com maior consciência social e ambiental. Espera-se que logo essa mentalidade começará a influenciar fortemente os padrões de consumo, como já ocorre em alguns países europeus. A sociedade mundial está se perguntando quais são os limites do progresso: até que ponto a humanidade pode crescer e consumir sem afetar o destino do planeta e das gerações futuras?
Os desafios da empresa que investe em Responsabilidade Social são, além do compromisso com os direitos dos clientes e o bem-estar dos empregados, a garantia de processos produtivos que não degradem o meio ambiente. Muitas vezes isso implica em dar atenção também às comunidades nas quais suas unidades estão inseridas, participando da promoção da cidadania e do desenvolvimento dessas populações.
O dinheiro gasto em doações no passado, hoje tem de ser canalizado de forma planejada e monitorada, através de projetos sociais com escopo definido e metas alcançáveis. As doações se convertem agora no “Investimento Social Privado”, e, como todo investimento, tem de ter retorno positivo, caso contrário não tem razão para se sustentar.
O bom relacionamento e a ética são imprescindíveis nas relações com o mercado, com fornecedores e parceiros, além da transparência com a prestação de contas aos acionistas e conselheiros das organizações. Os investidores, especialmente os estrangeiros, prezam que todos esses fatores sejam bem observados nas práticas empresariais.
Como pode ser percebido, para se desenvolver a Responsabilidade Social precisa-se de uma política complexa e abrangente. Por isso, recomenda-se que ela seja parte integrante da estratégia organizacional e esteja refletida em todas as ações, nos vários níveis de atuação da empresa, desde o alto escalão até a base operacional.
A ISO – Organização Internacional de Normalização – divulgou em 2010 a ISO 26000, uma norma internacional (porém, não certificável) que traz orientações sobre os princípios referentes à Responsabilidade Social, para nortear as empresas que desejam implementá-la. Segundo o relatório, são sete os princípios da responsabilidade social:
·         Responsabilização com prestação de contas (accountability);
·         Transparência;
·         Comportamento ético;
·         Respeito pelos interesses das partes interessadas;
·         Respeito pelo estado de direito (supremacia da lei);
·         Respeito pelas normas internacionais de comportamento;
·         Respeito pelos direitos humanos.
Apesar de o escopo da Responsabilidade Social abranger diversos fatores, o retorno positivo para a empresa que investe nesse conceito é bastante alto e muitas vezes com valor imensurável. Ainda usando como referência a ISO 26000, vários benefícios podem ser listados:
·         Melhoria das práticas de gestão e risco da organização;
·         Melhoria na imagem e reputação da organização, refletindo em maior confiança e simpatia por parte do público;
·         Ganhos com inovação em gestão e processos;
·         Reflexo na competitividade da organização;
·         Facilidade de acesso a financiamentos internacionais;
·         Melhoria no relacionamento com stakeholders da empresa (clientes, fornecedores, acionistas, financiadores, governo e mídia, por exemplo);
·         Aumento da fidelidade, motivação e retenção de funcionários;
·         Melhoria na saúde e segurança dos trabalhadores;
·         Economia resultante de aumento da eficiência nos processos e no uso de recursos, com conseqüente redução do consumo de energia, água e matéria-prima;
·         Maior confiança do mercado pela prática da concorrência leal, da transparência em operações e ausência de corrupção;  
·         Clientes mais satisfeitos, pois tem suas necessidades atendidas.
Agora, ao final desta breve jornada, reveja as questões iniciais referentes à sua empresa. E então, quanto do caminho falta a percorrer para contemplar as várias exigências que contemplam a aplicação da Responsabilidade Social em uma empresa?
Como você pode ver, o trabalho é árduo, mas as recompensas são dignas do esforço. O mais importante para os empresários terem em mente é que, por enquanto, muitas das recomendações expostas neste texto são fatores de diferenciação no mercado. Entretanto, em um futuro próximo, elas se transformarão em exigências, e aquelas empresas que já estiverem preparadas, estarão em grande vantagem.

* Diretora na Sustentabilitá Consultoria em Responsabilidade Social
isaura.morel@sustentabilita.com.br


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