segunda-feira, 21 de março de 2011

Lixo Tecnológico

Isaura Morél*

Agora a moda é falar em lixo tecnológico. Este tipo de resíduo, também chamado de lixo eletrônico ou e-lixo, é todo aquele gerado a partir de equipamentos eletro-eletrônicos, eletrodomésticos, seus componentes e também acumuladores de energia (pilhas e baterias).
O padrão de geração de lixo doméstico vem mudando ao longo dos anos. Se antigamente a maior parte dos resíduos gerados nas residências era de caráter orgânico (restos de alimentos), hoje em dia imperam os de tipo seco. Além de uma série de produtos, previamente criados para serem descartáveis, tais como embalagens de diversos tipos, é crescente o consumo de bens ditos “duráveis”.
Há alguns anos a revolução digital e o crédito fácil vem contribuindo para a expansão nas vendas de produtos tecnológicos. Enquanto isso, a grande oferta e variedade desses itens, que chegam às lojas cada vez mais modernos e com novas funcionalidades, são convidativos ao consumo e à troca cada vez mais freqüente por modelos atuais.
Segundo a Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica, o faturamento desse setor em 2010 chegou a R$ 124 bilhões, o que representa crescimento de 11% em relação a 2009 (R$ 112 bilhões). Para 2011, a previsão é de que o faturamento da indústria eletroeletrônica cresça 13% em relação a 2010, atingindo cerca de R$ 140 bilhões. Em 2010, só o mercado de PC’s no Brasil atingiu 14 milhões de unidades, superando em 17% o observado no ano de 2009 (12 milhões)[1].
Em nível mundial, o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma) realizou um estudo, divulgado em fevereiro deste ano, no qual consta que a geração de lixo eletrônico cresce a 40 milhões de toneladas por ano.
A pior faceta do lixo tecnológico, no entanto, não é somente o seu volume, mas principalmente, o tipo de resíduo gerado. Computadores e notebooks, por exemplo, possuem componentes que contém metais pesados, sendo alguns, como chumbo, cromo, cádmio e berílio, altamente tóxicos se ingeridos pelo corpo humano. A grande preocupação é que, como a maior parte do lixo no Brasil ainda vai parar em lixões, o risco de contaminação da água e do solo por esses metais é bastante grande.
Para combater um cenário de catástrofe ambiental e, ao mesmo tempo, enfrentar um paradoxo existente no país, que é a exclusão digital, há várias iniciativas que ganham importância. O CDI – Comitê para a Democratização da Informática, por exemplo, é uma organização atuante no Brasil e América Latina, que trabalha com inclusão digital e geração de trabalho e renda através da tecnologia. São oferecidos, por exemplo, cursos de informática e de capacitação em manutenção de computadores. A organização recebe os equipamentos em funcionamento para os seus projetos sociais, e também, lixo tecnológico para encaminhar à reciclagem.
Outra iniciativa é do Centro de Descarte e Reúso de Resíduos de Informática da USP, que atua de maneira semelhante, recebendo computadores que são encaminhados para projetos de inclusão digital, além de oferecerem serviço de descarte de materiais de informática para reciclagem.  
Mas não é só de resíduos da informática que é feito o lixo tecnológico. Para exemplificar, o programa de TV “Cidades e Soluções”, do canal Globo News, apresentou recentemente o tema do e-lixo a partir de algumas iniciativas e empreendimentos. Um deles foi o caso de uma indústria, única na América Latina a reciclar 100% dos componentes de refrigeradores e freezers, incluindo o nocivo gás CFC.
Mesmo sabendo que algumas iniciativas ainda são incipientes e localizadas, há de se reconhecer e comemorar o início de uma mudança de mentalidade e um avanço no tratamento de lixo no Brasil. Muitas empresas já estão atentas para as suas responsabilidades ambientais. Agora, cabe aos consumidores também buscarem informações sobre os produtos que utilizam e sobre sua destinação correta.
Portanto, quando você for descartar lixo, especialmente os eletrônicos e tóxicos, procure o fabricante, o fornecedor, o serviço de limpeza urbana da sua cidade, ou ainda, programas de reciclagem, e ajude a dar um fim correto a essa história.

* Diretora na Sustentabilitá Consultoria em Responsabilidade Social
isaura.morel@sustentabilita.com.br

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