quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Desenvolvimento sustentável começa nas cidades

Rodrigo Zavala*

Um processo de transformação para um desenvolvimento econômico, social e ambientalmente sustentável pode ter início dentro das cidades. Essa foi uma das conclusões a que chegou a plenária “Planejando Cidades Sustentáveis”, realizada durante a oitava edição do Encontro Ibero-americano sobre Desenvolvimento Sustentável – EIMA 8, organizado pela Fundação Conama (Espanha) e a Fundação Getulio Vargas, que aconteceu entre os dias 17 a 20 de outubro, em São Paulo.

O EIMA 8 buscou construir um espaço de diálogo e de convivência do mundo Ibero-americano na área de sustentabilidade, no qual as cidades receberão destaque, como visto nesta mesa. O grupo de palestrantes que participaram do debate, ocorrido na manhã do dia 20, pertenciam a diversos setores da sociedade, com representação do poder público, sociedade civil organizada, academia e empresas.
Entre eles, estava Ladislau Dowbor, professor titular da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). Segundo ele, as reformulações de base são essenciais para o processo de transformação para um modelo econômico mais sustentável, atribuindo aos centros urbanos papel fundamental.

“As cidades devem ser protagonistas das mudanças. A maior parte da população mundial vive nos centros urbanos e é no âmbito local que as pessoas podem cooperar mais efetivamente”, afirmou. Na visão do acadêmico, é das cidades que partem as principais decisões e diretrizes políticas por reunirem melhores condições econômicas para financiar esse processo.

O arquiteto e urbanista espanhol Fernando Prats também foi enfático sobre a importância das cidades quando se fala em forças para mudança. “Elas são o campo de batalha”, frisou, ao lembrar da necessidade de se criar um Estatuto de Sustentabilidade Urbana. Este tipo de documento, que vêm de uma combinação de vontade política e sociedade atuante, daria uma nova lógica ao tratamento do tema.

De cima
Nas vozes dos convidados, no entanto, são várias as dimensões em que isso pode se tornar evidente. A primeira, e mais notória, são as intervenções do poder público em busca de soluções estruturais. O subdiretor de Projetos Metropolitanos de Medellín (Colômbia), Juan Manuel Patino, mostrou exemplos de como contribuir para a mobilidade urbana com sistemas públicos de transporte assertivos e de baixo custo operacional.

O metrô aéreo, um dos símbolos da nova Medellín, que levam os passageiros como se fosse um teleférico, foi uma das apostas da cidade para descongestionar o fluxo de pessoas e veículos pelas vias convencionais. “Não existem fórmulas prontas, mas cada cidade pode encontrar sua própria resposta frente à demanda”, avaliou. Isto é, podem haver ideias, mas as soluções dependem da população e condições culturais locais.

Por outro lado, o secretário municipal do Verde e Meio Ambiente de São Paulo, Eduardo Jorge Martins Alves Sobrinho, mostrou o que a prefeitura está fazendo para mitigar a emissão de carbono. Entre os exemplos dados por ele estavam as usinas de Biogás nos aterros São João e Bandeirantes, com os quais São Paulo conseguiu diminuir em 12% o envio de gases nocivos à atmosfera. “Deveriam colocar uma placa em Brasília mostrando quantas pessoas morrem no Brasil devido a catástrofes naturais, como se viu em Santa Catarina, Rio de Janeiro, Pernambuco e São Paulo”, esbravejou.

De baixo
Entre os principais desafios mostrados durante a plenária estava justamente a articulação social para pressionar por mudanças. O diretor e vice presidente executivo do Instituto Ethos, Paulo Itacarambi, afirmou à audiência que o primeiro passo pode ser “incidir sobre o processo que nos levam a isso (realidade insustentável) para nos levar onde queremos”.

A proposta apresentada por ele, validada pelo processo empreendido pelo instituto, entre outros parceiros, o programa Cidades Sustentáveis, é influenciar as demandas dos cidadãos e, assim, pressionar os agentes econômicos que atuam no processo. Fortalecer os atores sociais, nesse contexto, torna-se essencial.

De forma reducionista, entende-se a sugestão por um efeito dominó. A partir do momento em que se qualifica a demanda, a pertinência e adequação das ações por um desenvolvimento sustentável aumentam. De forma comparativa à educação, seria como fornecer aos pais dos alunos instrumentos de avaliação que levariam a uma pressão pela melhoria do ensino.

Nesse contexto, a sociedade não é apenas um gigante a ser acordado, mas co-responsável pelo processo. Segundo Ladislau Dowbor seu papel não está restrito ao voto, mas a decisões mais procedimentais, como orçamento, e culturais, como atitudes. Paulo Itacarambi chegou a comentar que as crianças de zonas rurais almejam um futuro como um lugar cheio de edifícios e carros, em uma clara alusão ao que se espera como progresso. “Trabalhamos um novo discurso, mas temos as mesmas visões do passado”, concluiu.

A oitava edição do Encontro Ibero-americano sobre Desenvolvimento Sustentável – EIMA 8 não se limitou apenas à discussão sobre Cidades Sustentáveis. Saiba um pouco mais no site do evento.

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Rodrigo Zavala é Editor de Conteúdo do GIFE.

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