quinta-feira, 22 de setembro de 2011

Boas práticas rendem um lugar no clube

22/09/2011 - Fonte: Valor Online
Por Fernando Salgado | Para o Valor, de São Paulo


Sônia Favaretto, diretora de sustentabilidade da Bovespa: "Os próprios investidores dizem que olham com melhores olhos as empresas incluídas no ISE"



Os investidores estão mais exigentes em relação às práticas de sustentabilidade das empresas em que vão aplicar seus recursos. Da mesma forma, essas políticas são pré-requisitos para ingresso em importantes índices do mercado de ações, como o ISE (Índice de Sustentabilidade Empresarial), ICO2 (Índice Carbono Eficiente), ambos da Bovespa, e DJSI (Dow Jones Sustainability Indexes), da Dow Jones, nos Estados Unidos. Entre as ferramentas para análise, estão os relatórios de sustentabilidade redigidos com padrões do GRI (Global Reporting Initiative).

O ISE é o mais completo índice de sustentabilidade da Bovespa. Resultado de parceria com o Centro de Sustentabilidade da Fundação Getúlio Vargas (GVces - FGV), o índice inclui até 40 das 200 empresas com ações mais líquidas na Bolsa. Para ser aprovadas, precisam responder a um questionário rigoroso, com 180 perguntas, que abordam os critérios de "natureza do produto", "compromissos gerais", "governança corporativa", "mudanças climáticas", "ambientais" e "econômicos-financeiras". As informações precisam ser comprovadas por documentos.

"É uma maneira de evitar que as informações sejam da boca pra fora e não dependam das pessoas que estejam nas empresas, mas sim da política adotada e oficializada pelas companhias", explica a diretora de sustentabilidade da Bovespa, Sonia Favoretto, presidente do Conselho do ISE. O resultado final leva em conta a pontuação nas respostas e a análise documental pelos técnicos da FGV, com parecer final do Conselho do ISE.

As empresas participam voluntariamente após convite da Bovespa, geralmente feito no primeiro trimestre. Em 2010, das 200 convidadas, 51 aceitaram e 38 foram classificadas. O período para entrega das respostas é de aproximadamente três meses, a partir do segundo semestre, e a divulgação da carteira ocorre em novembro.

Na carteira que está em vigor desde novembro de 2010, foram selecionadas 32 companhias das 34 que constavam na relação anterior. As seis companhias que ingressaram em 2010 e que não estavam na relação anterior foram Anhaguera, BicBanco , Copasa, Santander, Ultrapar e Vale.

Devido à sua amplitude, o ISE passou a ser referência de análise de investidores preocupados com os métodos de gestão e riscos ambientais das empresas em que apostarão seu dinheiro. "Nós descartamos fazer avaliação das especificações de sustentabilidade das empresas que compõem o ISE e o DJSI, pois entendemos que elas já foram muito bem avaliadas", destaca a analista de planejamento estratégico e sustentabilidade da Fundação Vale do Rio Doce de Seguridade Social (Valia), Milena Miranda, em recente seminário na Bolsa.

A Valia integra um movimento mundial de investidores, denominado PRI (Principles for Responsible Investment), atualmente com 860 signatários, dos quais cerca de 50 no Brasil, que se comprometem a investir prioritariamente em empresas responsáveis socialmente, ambientalmente e na governança. Possui mais de US$ 25 trilhões de ativos sob sua gestão.

"Estamos no ISE há dois anos seguidos e, no primeiro ano, sete novos fundos compraram ações da Even", confirma o diretor técnico e de sustentabilidade da construtora, Sílvio Gaia. A empresa, primeira do setor de construção a integrar o índice, utiliza o selo ISE em placas instaladas nas suas obras para comprovar o compromisso com as práticas ambientais.

Criado em 2005 como o quarto fundo do gênero em Bolsa de Valores no mundo (os anteriores foram o DJSI, 1999, o FTSE, 2001 e o Africa Index Series), o ISE ganhou parecer favorável do IFC, "grupo" inglês que financiou a implantação do índice no Brasil em seus dois primeiros anos. A avaliação, concluída em novembro do ano passado, afirma que o ISE "tem tido um impacto no desenvolvimento da sustentabilidade no Brasil ao criar consciência" nas companhias para que adotem essas práticas e possam integrar o índice.

E qual impacto efetivo nos preços das ações que a inclusão no ISE tem provocado? "É isso o que todos nós procuramos descobrir. Não é tão simples, pois o preço de uma ação é composto de diversas variáveis, não apenas por estar no ISE. Mas os próprios investidores estão dizendo que olham com melhores olhos as empresas incluídas no ISE", reforça Sônia Favaretto.

Para Gláucia Térreo, representante do GRI no Brasil, quando as empresas se preocupam só em prestar informações patrimoniais, elas omitem riscos inerentes ao negócio, como escândalos financeiros ou desastres ambientais.

"Foi o caso do escândalo financeiro dos Estados Unidos em 2008 e o vazamento de petróleo da ExxonMobil, no Alasca, em 1989", relembra Gláucia Por isso, os investidores passaram a cobrar esse tipo de informação pelas empresas e, dessa necessidade, nasceram as diretrizes do GRI, com sede na Holanda.

Para 2011, os organizadores do ISE incluíram no questionário uma pergunta se a empresa participante concorda em expor publicamente suas respostas, no site do índice na Bovespa (www.isebvmf.com.br), excluindo a documentação comprobatória. O objetivo da pergunta é checar até que nível de transparência a empresa candidata deseja revelar.

Outro índice de sustentabilidade da Bovespa é o ICO2, destinado a avaliar especificamente as emissões de gases estufa pelas companhias. Lançado em 2010, em parceria com Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), o indicador funciona como uma espécie de recorte do critério de seleção "Mudanças Climáticas", do ISE.

O ICO2 tem como primeiro critério de corte para escolha das candidatas a exigência de que suas ações estejam relacionadas no IBRX-50, índice que relaciona as 50 ações mais líquidas na Bovespa. O segundo é o de apresentação dos níveis de emissão de gases estufa, com especificações relativas às emissões diretas e às indiretas, a partir do consumo de energia.

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